PRATA DA CASA - FERNANDA SALVARO "O que existe na verdade é muito estudo, esforço e dedicação..."
Em nossa terceira edição, conheça a inspiradora trajetória de FERNANDA SALVARO!!!!
“Olá. Me chamo Fernanda Wilpert Salvaro, tenho 28 anos e conclui o curso de Comércio Exterior da UNESC em 2011. Convido você a conhecer um pouco da minha trajetória profissional”.
Aos meus 14 anos consegui uma bolsa de estudos na Escola Técnica SATC, já que o meu sonho na época era cursar Design Industrial, mas por ser uma das últimas beneficiadas, as vagas já estavam esgotadas, sendo Secretariado Executivo a melhor opção disponível, assim iniciei o curso. Além do técnico no período vespertino, cursava o ensino médio pela manhã e trabalhava a noite como diretora comercial da Mini-Empresa da SATC.
Na última fase do curso técnico, tive a matéria de Comércio Exterior, em todas as aulas ouvia deslumbrada o professor ensinando sobre as diferentes culturas, negociações entre países e possibilidades de viajar a diferentes lugares. Pensava que era impossível para uma menina que morava na roça e até então capinava na plantação de mandioca enquanto outras pessoas faziam aulas de inglês.
Logo após completar 17 anos o meu objetivo era ingressar na universidade, agora a meta era cursar arquitetura e urbanismo, mas foi justamente um ano de mudanças na política de bolsas governamentais e a tão desejada bolsa de estudos não veio, sendo assim busquei por cursos com menores preços de mensalidades, Comércio Exterior foi o que se destacou, principalmente pelo seu escopo contemplar a área comercial. Com o meu curso decidido, estava na hora da matrícula. O salário do estágio correspondia a menos da metade do valor da mensalidade, sendo assim precisei pedir emprestado o restante do dinheiro com meu irmão.
Logo na primeira semana da graduação, um colega anunciou uma vaga para Assistente de Exportação em uma comercial exportadora de revestimentos cerâmicos. Ao perceber que praticamente toda a turma se candidatou para a vaga, eu soube que precisava daquele emprego, então todos os dias após chegar da faculdade, ficava estudando até a madrugada estratégias de como me destacar naquela entrevista.
Felizmente fui contratada, e comecei a trabalhar na empresa que hoje se chama Intertile Representações Comerciais, que exporta para mais de 40 países, e é responsável pela área comercial de várias marcas, como Artec, Cristofoletti e na época Pisoforte, que é, hoje, parte do Grupo Cecafi.
Tendo em vista que a empresa era sediada em São Paulo e migrou para Criciúma, o meu papel foi de criar o departamento operacional praticamente do zero, sendo este um grande desafio, composto de muito aprendizado, principalmente da área comercial, visto que o meu chefe da época foi um dos pioneiros na área comercial de revestimentos cerâmicos em âmbito nacional.
Em minha primeira viagem internacional, meu chefe e eu paramos para almoçar na cidade de Tijucas, e ele me disse: “- Olhe do outro lado da rodovia, está a Cerâmica Portobello, é a maior do Brasil”, e esta informação ficou gravada em minha mente.
Um dos grandes desafios nesta época, surgiu quando eu tinha 19 anos. Recebi uma função extra no trabalho: organizar a nossa participação na Feira Coverings nos Estados Unidos, atividade esta que demandou bastante tempo extra, além do horário comercial. Após o embarque do container com os materiais para o stand, meu chefe me convidou para participar da feira que aconteceria em Orlando. Que grande alegria! Mas esta alegria durou pouco, o meu visto foi negado, mesmo com todos os documentos e justificativas em mãos. No ano seguinte, tudo aconteceu da mesma forma, inclusive ter meu visto negado.
Nos quase 5 anos que trabalhei na Intertile, tive a oportunidade de aprender desde fechamento de câmbio, processos logísticos, documentação e principalmente a área comercial, sendo back office para traders, representantes e clientes da América do Sul e América Central.
Foi uma grande escola que demandou extrema dedicação, lá fui submetida a um alto nível de exigências, mas também foi lá, que aprendi a encarar os desafios de um mundo concorrido, aprendi a conciliar viagens constantes com o trabalho no escritório, universidade, cursos de idiomas, venda de roupas a noite na universidade para gerar uma verba extra e minha vida pessoal.
Ainda na Intertile chegou o momento de definir o meu tema da monografia, e por ser apaixonada pelos portos, o tema escolhido foi “Os reflexos do apagão logístico no Porto de Santos sob a ótica dos agentes intervenientes e as consequências juntos aos armadores internacionais“, escolhi como o meu orientador o professor Julio Cesar Zilli, um mestre extremamente capacitado e dedicado aos seus alunos.
Decidi que parte do meu TCC seria realizado in loco, para isso consegui a antecipação do meu 13° salário e estive por uma semana em Santos, uma experiência que me ensinou muito sobre a operação portuária. Foi um ano de muita dedicação diária, nas madrugadas, finais de semana, todo este empenho foi recompensado através da publicação de artigos, participação em congressos nacionais e por fim ser convidada para escrever um capítulo em um livro de Comércio Exterior, com a co-participação do professor Júlio Cesar Zilli.
Durante as feiras que participei, tive frequentes contatos com muitas pessoas, um deles o diretor da Cecrisa Revestimentos Cerâmicos, já que o meu chefe na época também já havia sido chefe deste que era o diretor. Em 2010 participei de um processo seletivo para Analista de Exportação mas, não fui classificada, em 2011 fui convidada para uma nova entrevista e desta vez, recebi a notícia positiva.
A Cecrisa é uma maiores empresa do segmento da América Latina, e seguramente trabalhar lá seria uma oportunidade maravilhosa para o meu desenvolvimento, então com pesar compartilhei com meu chefe sobre esta oportunidade, ele prontamente respondeu. "-Você cumpriu todos os seus objetivos aqui, completou o ciclo e treinou sucessores, agora é hora de aprender a trabalhar em uma empresa grande, siga seu caminho, estou orgulhoso de você".
Confiante e feliz, comecei a minha jornada como Analista da América do Sul, África e Extremo Oriente na Cecrisa, na também conhecida como Portinari.
Ainda em vias de entregar o TCC, comecei a pesquisar qual seria o próximo passo na área educacional, e me encantei pela ideia do mestrado mas, inviabilizaria o meu trabalho, assim pesquisei pelas melhores opções de especialização e encontrei na Fundação Getúlio Vargas - FGV, em Florianópolis o MBA de Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais, curso este que era aberto a cada 3 anos, e por pura sorte, a turma iria começar em um mês.
No momento que coloquei os custos com mensalidade, hotel, transporte e alimentação no papel, conclui que iria representar 70% do meu salário durante dois anos e meio, fiquei balançada, mas, segui. E foi a minha melhor decisão! Aumentei minha rede de contatos, ampliei meus horizontes e por ser a líder da classe, tive contato com muitos professores.
Aos 21 anos, conclui a graduação e tive a feliz surpresa, de ser reconhecida como aluna destaque, premiação esta reconhecida pelo Conselho Regional de Administração.
A rotina do MBA há 250 km de casa, sem a construção da ponte Anita Garibaldi em Laguna foi intensa, aliado a isto as frequentes viagens e o aumento das responsabilidades profissionais. Mas além de Comércio Exterior, na época entendia que era importante estar à frente de outros projetos, e ajudar as pessoas, assim como eu mesma havia recebido de várias pessoas.
Diante disto, me tornei voluntária do Programa 5's, e no Programa de Ações Sociais da Portinari, onde certamente desenvolvi o projeto mais gratificante da minha vida: dar a 1ª oportunidade profissional aos filhos dos funcionários, mais de 80 a cada ano.
Sempre tive como foco que após terminar um ciclo, é fundamental iniciar um novo, afinal a vida é muito dinâmica e acompanhar a velocidade do mercado de trabalho, é o que nos faz sobreviver a ele. Então finalizei o Master em Comércio Exterior, decidi dar ainda mais foco ao trabalho e ao meu sonho de ser trader.
No início de 2013, uma analista que havia sido incumbida de dar treinamentos aos clientes na América Latina saiu da empresa, então pesquisei e me preparei muito, desenvolvi um novo modelo treinamento com foco na prática e bastante dinâmico, propus o meu diretor, para que assistisse a minha apresentação e que se estivesse de acordo, que além do meu trabalho de analista, me desse esta oportunidade, e felizmente recebi o voto de confiança.
Durante as viagens, percebi que além de treinar vendedores, arquitetos e designers, poderia aproveitar a oportunidade e trazer resultados para a empresa, então comecei a vender durante as viagens. Após alguns meses, lancei uma nova proposta. Eu queria atuar como trader, mesmo sendo analista, e se atendesse as expectativas da empresa, ser promovida a Trader, e assim aconteceu após 6 meses de testes.
Neste período já com 23 anos, negociava com clientes com clientes da América do Sul com muita mais de 30 anos no ramo. Então, precisava criar um sistema de trabalho que me desse credibilidade e confiança com clientes, com o direcionamento do meu diretor desenvolvi um plano de sell-out, que gerou muitos frutos.
Com os resultados de ampliação do share do mercado e feedback positivo dos clientes, um ano após estar atuando como trader, surgiu um novo desafio: me tornar Gerente Regional da América do Sul, mal eu havia assumido a nova posição, um triste fato aconteceu, o representante da Argentina, com mais de 25 de atuação, veio a falecer. Então passei atuar de lá, com a mentoria do presidente da empresa, visto a alta complexidade do mercado e grande potencial comprador.
Após encontrar e contratar um trader para o mercado argentino, voltei ao Brasil, e um dos meus focos foram as exportações para o Equador, que haviam sido fechadas por uma medida de retaliação comercial ao Brasil. Me dediquei por quatro anos para a abertura do mercado, atuei como representante das empresas cerâmicas brasileiras em inúmeras viagens e reuniões com os órgãos envolvidos, e depois destes longos quatro anos, felizmente o governo equatoriano deixou uma “brecha” a qual aproveitamos para montar um processo junto com a Associação de importadores de revestimentos cerâmicos do Equador. Este processo foi aprovado em 2017.
Após 5 anos de muito aprendizado na Cecrisa Revestimentos Cerâmicos, com uma bagagem grande nas ações de sell-out, de gerenciamento, de muitas feiras em diferentes países, era o momento de buscar novos conhecimentos.
Desta vez, migrei do conhecimento técnico para estudar sobre liderança, soft skills e idiomas, fiz cursos, participei de treinamentos comportamentais e programei um pequeno intercâmbio em Brighton, no litoral da Inglaterra, onde morei com uma família inglesa. Foi Maravilhoso expandir meus horizontes e possibilidades.
Nesta fase de bonança, recebi uma proposta para trabalhar na Cerâmica Portobello, aquela mesma empresa que meu primeiro chefe disse ser a maior de todas.
Com 26 anos realizei mais um sonho. Assumi a função de Trader na maior empresa do segmento da América do Sul. Comecei com um desafio grande, maximizar os resultados em um mercado maduro e fidelizado, passei a estudar ainda mais sobre relacionamentos interpessoais, isto foi fundamental para o alcance dos resultados.
Mesmo já tendo participado de feiras na Itália, Argentina e Brasil, a “temida” Coverings nos EUA ainda não estava na minha lista do caderninho, e foi somente na Portobello que tive a primeira oportunidade de trabalhar como expositora na Coverings.
Por 3 anos me dediquei ao mercado da América do Sul, um mercado que atuei diretamente por 12 anos. No início deste ano de 2019 recebi um novo desafio, desenvolver o mercado da América Central e Caribe, assumi esta cadeira no início de maio, um mercado extremamente concorrido, com um território muito mais amplo, mais países do que geralmente atuava. Mas, estou muito feliz e entusiasmada. A princípio atuarei a partir do Brasil mas, em breve estarei morarei fora para estar mais perto do mercado. E tenho certeza que isto ainda é apenas o começo!
Espero que ao ler minha história você tenha percebido o quanto não existe sorte, ou preferencialismos. O que existe na verdade é muito estudo, esforço, dedicação, algumas portas fechadas e outras tantas se abrem para aqueles que estão sempre se expandindo e crescendo.
Meus conselhos para você que ainda está na graduação são simples: Aprenda tudo sobre seu produto e seus processos produtivos, desenvolva fluência em outros idiomas, seja um mestre nas vendas, relações humanas e liderança. E por fim nunca desista! Você vai chegar lá!
08 de maio de 2019 às 15:091 comentário
Marcelo Agostinho Silvério
16 de outubro de 2023 às 22:47Fernanda, parabéns pela sua história e especialmente pela sua dedicação e esforço. Como eu sempre digo, não história vitória sem muita luta e suor!
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