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Professor Idaleto diz que crise mundial mudará estrutura produtiva e terá tempo indeterminado

Professor Idaleto diz que crise mundial mudará estrutura produtiva e terá tempo indeterminado
Janete Triches Mais imagens
"A crise atual parece ser de crédito, mas na verdade é da reprodução do capital. A crise é provocada por riqueza demais, estoque demais, muita prateleira cheia. Ou seja, a riqueza que o capitalista lança no mercado é superior a capacidade da sociedade em consumi-la, por isso precisa ser destruída. Isso significa que estamos entrando num ciclo de recessão profunda, que pode durar três anos, uma década ou 50 anos. Não existe, hoje, nenhum instrumento ou matriz econômica capaz de prever o que vai acontecer. A única coisa mais certa é que haverá mudança da estrutura produtiva". A afirmação foi feita pelo professor doutor Idaleto Malvezzi Aued (UFSC) durante encontro com professores do curso de Economia da Unesc hoje (6/11).

Na mesma noite, ele proferiu a palestra "A crise financeira internacional: sua gênese e perspectiva" no auditório Ruy Hülse, a convite do mesmo curso. Os professores Ricardo Lopes Fernandes e Murialdo Gastaldon atuaram como debatedores e mediador. Classificando a crise atual como "mais intensa do que aquelas de outras épocas", Aued sugere cautela na hora dos gastos, preferencialmente que não se gaste, e guarde o que puder como reserva.

Degeneração

Mais do que nunca o marxista não acredita que as teorias econômicas neoclássica ou keynesiana, que acreditam que a crise é simples desajustamento que pode ser corrigido ou que a intervenção do Estado na economia pode resolver seus ciclos, darão as respostas necessárias. "Marx dizia que tudo nasce, se desenvolve e morre. Como todas as sociedades que já existiriam antes, a capitalista é apenas mais uma delas. A crise não é de desajustamento. É a manifestação degenerativa dessa sociedade, que é capitalista, ou seja, a impossibilidade dos homens produzirem sua vida pelo padrão  atual de salário ou lucro", afirma.      

Falta alternativa

As alternativas políticas de matriz anarquista, socialista, marxista ou até social-democrata, sugeridas ao longo do século XIX, segundo o professor, não aparecem no cenário atual. "O mais terrível é que não existe nenhum movimento político que diga que a saída é por aqui ou por lá, que proponha alternativas. Não temos hoje no mundo um Proudhon ou um Marx", lamenta. "O problema da crise é que ela não dá alternativa". O professor chega compará-la como algo pior do que uma guerra. "A guerra é terrível para todos, porque ela não escolhe pessoas, classe, cor, escolaridade. A crise atual, ao contrário, vai atingir muito duramente uma classe, que são os trabalhadores. Cerca de 20 milhões deles ficarão desempregados. Também atingirá alguns capitalistas, não como classe, mas como indivíduos. Muitos quebrarão e poucos ficarão ainda mais ricos", diz. 

Vida coletiva

Neste cenário pouco animador, o economista diz que é importante os seres humanos ficarem atentos aos experimentos da vida coletiva, como economia solidária e cooperativas, única alternativa concreta que sobrará para milhões deles que estarão sem trabalho. Exemplos desses experimentos, segundo ele, são o MST e o Movimento Indígena na Bolívia. Tanto num caso como noutro, os seres humanos estão produzindo para resolver a vida coletiva por caminhos que não passam pelos padrões tradicionais do salário e nem do lucro. "O mundo organizado nos moldes capitalistas está desmoronando e precisa ser vista outra forma de garantir a vida. Interesses privados, particulares, não resolvem os problemas da humanidade. Precisaremos de soluções públicas, coletivas", adverte.    06 de novembro de 2008 às 20:53
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