Alunos de Medicina visitam aldeia Guarani
Os estudantes da disciplina optativa Família e Cultura Popular, do curso de Medicina, ministrada pelo professor João Batanolli, realizaram uma viagem de estudos inédita no curso. Eles fizeram uma visita à aldeia guarani Tekoa Maragatú, que em tradução livre da língua original significa "Lugar para se viver em harmonia". A terra está localizada no município de Imaruí.
A aldeia teve início com cinco famílias em 1998 e hoje é constituída por 40, em um total de aproximadamente 200 pessoas que vivem em 70 hectares, onde se encontra mata nativa, cachoeira, pequenas roças típicas guarani, casas de madeira, de alvenaria e ainda muitas no estilo típico guarani, construídas de barro ou pau a pique e cobertas de palha, como nos tempos antigos.
As terras são propriedade deles, que adquiriram por meio de indenização paga pela Petrobras pela instalação de gasodutos em suas terras antigas na localidade de Maciambú, município de Palhoça.
Maragatú é considerada candidata à aldeia modelo no estado por estar aberta a projetos de integração com a sociedade nacional conservando a essência de sua cultura, costumes, ritos e religião.
A aldeia possui escola com estrutura física do governo estadual e com pessoal e manutenção garantidos pelo município. Ali estudam crianças e adultos desde o maternal, jardim, ensino fundamental e médio, CEJA (Educação de Jovens e Adultos) com a recente conquista do curso de magistério intercultural. Todos são alfabetizados primeiro na língua materna e depois em português, tendo no programa de ensino conteúdos convencionais conforme normas da SED e também conteúdos tradicionais. São 140 alunos.
Os alunos da Unesc, acompanhado do professor Batanolli foram recebidos pelo Cacique Ricardo Werá Tupã, pela diretoria da escola e pela técnica de enfermagem que lá convive diariamente.
Lá assistiram apresentação da aldeia em seus aspectos estruturais, saúde, cultura, educação, datas comemorativas, costumes e dia-a-dia na aldeia. Eles viram de perto que as dificuldades não são poucas. Alguns trabalham para o estado como agente de saúde, professor bilíngue, outros poucos trabalham como diaristas na comunidade adjacente. Apenas três são aposentados e outros poucos recebem bolsa-família. Mas a grande maioria tem como fonte de renda apenas o artesanato. “O que garante mesmo a sobrevivência é a profunda solidariedade entre todos”, revela a diretora.
O ponto alto da visita foi poder apreciar ainda que só por fora, a OPY, casa de reza, local sagrado onde tudo começa: religião, saúde e educação tradicional.
Conheça depoimentos do professor e dos estudantes
“O objetivo da visita foi chegar mais perto do próprio espírito da disciplina que, além do caráter sócio-cultural da família brasileira, deve contemplar essa diversidade de nossas raízes para termos entendimento um pouco mais completo da natureza da nossa sociedade. No fundo, somos todos índios. Muito devemos a eles e muito temos a aprender com eles, principalmente civilidade, valores humanos e entendimento profundo da Natureza”. Professor João Batanolli: historiador e professor de ciências humanas na Unesc.
“Achei de extrema importância visitarmos a aldeia exatamente porque na nossa carreira a gente acaba não visualizando a população brasileira do jeito que ela é. Normalmente ficamos bitolados dentro de um consultório, dentro de um centro de estudos e a medicina não é só isso, a medicina é cuidar de todos, de culturas diferentes, de visões diferentes. Então, conhecer a cultura indígena que ainda está relegada à marginalidade, esquecida pela sociedade. É importante vir conhecer e aprender”. Mauricio Serafim, líder de turma, primeira fase de medicina.
“Essa visita hoje aqui na aldeia foi muito importante pois aprendermos o dia-a-dia dos índios e aprendemos muito com eles. Por exemplo, estávamos comendo bolacha e demos uma para um deles, quando vimos, eles repartiram entre si aquela única bolacha. Um levanta a mão e outro já a estende. A gente estava brincando assim na maior harmonia, na maior ingenuidade e são valores que hoje estão faltando bastante na nossa sociedade onde aprendemos no convívio a ir para o lado da ganância, desvirtuados. Aqui revivemos esses valores que deixam a vida mais tranquila e a sermos melhor”. Lais Buratto, 18 anos. Vice líder da turma. Primeira fase.
“Essa visita foi muito importante para mim, pois cheguei aqui sem a menor noção de como era, do tipo de vida deles e deu para aprender um pouco de cada coisa, da saúde, educação, a religião, aprendemos sobre a cultura, o respeito entre eles. Toda a turma está saindo daqui com uma bagagem bem grande e com certeza quero conhecer outros lugares como este pois achei tudo muito legal, as pessoas super receptivas, se abriram para responder perguntas e isso foi bem construtivo para a gente”. Eduarda Botelho. Acadêmica, primeira fase de medicina.
Texto - Professor João Batanolli
Fonte: AICOM - Assessoria de Imprensa, Comunicação e Marketing
23 de novembro de 2018 às 09:59
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