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Warat critica padronização de comportamento da área e prega ensino surrealista

Warat critica padronização de comportamento da área e prega ensino surrealista
Janete Triches Mais imagens
As instituições da magistratura se pinguizaram. Advogados, promotores, juízes e outros vêem, pensam, comportam-se, namoram, vivem, do mesmo modo, uniformizado. É a escola de formação do pensamento único, normativista. O excesso de razão os roubou a criatividade e a sensibilidade. A conseqüência é um mundo de surdos, onde ninguém escuta ninguém, e a perda de sentido à vida, que acabou gerando 200 tipos diferentes de depressão já catalogadas. A reflexão é do professor doutor Luís Alberto Warat (UnB), que ministrou curso de capacitação para professores e demais pesquisadores do curso de Direito ontem e hoje, dias 18 e 19 de julho. Para ele, os operadores jurídicos são a expressão mais paradigmática deste início de século XXI. "Aproximadamente 60% dos juízes não escutam as partes. Cerca de 40% escutam, mas as partes não se sentem escutadas. Esse é um dos grandes problemas não resolvidos."  A falta de sensibilidade, de emoção, de escutar o outro, no mundo jurídico, conforme Warat, parte da idéia que a insensibilidade seria igual a neutralidade. "Nada mais falso", sentencia ele."Neutralidade não têm nada haver com justiça. O juiz pode se emocionar, se sensibilizar, e não ser arbitrário".

Já que foram os professores insensíveis quem formaram os juízes, promotores e advogados insensíveis, Warat  defende uma radical mudança do método de ensino, que precisa ser surrealista. Lembrando que o surrealismo é uma corrente filosófica criada para questionar o lugar comum, os clichês e preconceitos que aprisionam, que tiram a autonomia dos sujeitos, ele diz que o Direito é cheio de bobagens que alienam, a linguagem usada é um horror, esquisita, e que não existe uma ciência chamada Direito, que exige comprovação. O que há são pontos de vista, meras interpretações. Para começar a implantar a nova metodologia de ensino, sugere que os professores ajudem seus alunos a terem auto-estima e a encontrar sentido à vida. "Ensinar é impossível. O máximo que podemos fazer é ajudar o outro a aprender. Daí a importância do método surrealista.  Ser um bom professor é deixar o lugar vazio, a ser preenchido pelos alunos. É ajudar a pessoa a se humanizar, a encontrar sentido à vida."
    
Algumas experiências

Para ilustrar seu pensamento, Warat cita exemplos de experiências do curso de Direito, que está organizando em Curitiba/PR, e de projetos de Macapá e de Brasília. No Paraná, parte das 180 horas de atividades complementares serão utilizadas em cursos obrigatórios de dança, para os estudantes e professores "aprenderem a soltar o corpo", e de circo. Neste caso, acadêmicos e educadores vestidos de palhaços, malabaristas, trapezistas, irão ao encontro da população em espaços públicos para debater questões da cidadania, das crianças e dos adolescentes, de gênero, etc. Disciplinas como História do Brasil, Penal  e Criminologia serão estudadas a partir de músicas da MPB, literatura e cinema. No projeto do Amapá, juízes atendem à comunidade em praças públicas. Ao final da audiência, as pessoas atendidas se integram a capoeira, dança e demais atividades culturais realizadas pelos universitários. Na Universidade de Brasília, alunos do mestrado criaram o Cabaré Macunaíma e o Café Literário, utilizando-se da poesia, da música e de outras manifestações culturais como elementos metodológicos de estudo e debate.        

Frases do professor Warat:

- Sem amor, não há educação.
- Todo ato pedagógico é um ato de amor. Têm que ter afeto.
- A qualidade de um curso depende de seus alunos, não dos professores. Se aprende mais fora da sala de aula!
- Como processo pedagógico, a avaliação não serve para nada. É um corpo totalmente estranho!
- Precisamos formar pessoas, não papagaios normativos, que não servem para nada!
- (A sociedade) têm um monte de psicótico como juízes. Eles são muito inteligentes e passam nos concursos. O problema é o desempenho depois!
- Não existe um único jogo no mundo que conhecendo as regras, consegue se saber ou prever o resultado. Mas no direito é isso que acontece! Os juízes interpretam as regras, que tem certos limites e são imprecisas. Normativismo puro é ideologia. 
- A realidade não existe. Entre o nascimento e a morte, sentimos necessidade de criar um sistema de ilusões. Essas ilusões são como colesterol. As más são ruins porque nos alienam. As boas são as que deixam saudades.
- Existem quatro coisas impossíveis: ensinar, amar, governar e psicoanalizar-se.
- A sociedade caminha para a perda total da sensibilidade e isso seria o fim da espécie humana.
- O homem já perdeu sua humanidade. Retornamos à barbárie. Hoje, somos inumanos. - Não há espécie mais auto-destrutiva que a nossa.

 

19 de julho de 2006 às 17:46
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