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Professora da Unesc pesquisa como era ser criança nas vilas mineiras do Sul catarinense entre 1920-1960

Professora da Unesc pesquisa como era ser criança nas vilas mineiras do Sul catarinense entre 1920-1960
Relatório das Pequenas Irmãs da Divina Providência ao Sesi (1955) Mais imagens
Como era ser criança nas comunidades mineiras de Rio Fiorita (Siderópolis) e da Próspera (Criciúma) na primeira metade do século XX? As condições sanitárias eram precárias. O índice de mortalidade infantil era alto. Chegava-se a ter seis enterros de crianças por dia. Na vila operária de Rio América, em Urussanga, eram as próprias crianças que faziam o enterro e sepultamento dos pequenos seres humanos. Muitas crianças andavam nuas e descalças pelas ruas, e defecavam em qualquer lugar. A preocupação das "autoridades" com a mortalidade infantil fez com que instituíssem o concurso de robustez infantil.

Essas e outras "experiências da infância" fazem parte de um dos capítulos da tese de doutorado na UFRGS "As práticas da Infância no Sul de Santa Catarina no período 1920 e 1960", de Marli de Oliveira Costa, apresentado em forma de palestra semana passada na Unesc. Segundo a professora nos cursos de História e Pedagogia, é nesse período que ocorre o maior deslocamento das famílias do litoral para as áreas de mineração, sendo Criciúma a cidade pólo desta migração. Relatórios de médicos e das Pequenas Irmãs da Divina Providência ao Sesi, além de entrevistas, fotografias e arquivos de jornais são as fontes da sua pesquisa.      

Marli conta que a concepção moderna de infância, como um tempo e lugar protegido, separados dos adultos, herdadas do Renascimento, são visíveis na região a partir de 1950. Principalmente a partir de uma aliança entre a igreja e as empresas mineradoras, cada uma com papéis específicos, mas que se complementam. "As autoridades interferem na vida das crianças e das famílias", diz. E essa interferência se fará sentir de inúmeras formas. As famílias tinham, em média, oito a dez filhos. A partir de 1950, as casas das famílias com três cômodos passam a ser maiores e terem três quartos, separando pais, meninos e meninas. Ao separar os moradores da casa em cômodos diferentes, segundo ela, acaba "normatizando, disciplinando a vida deles e moralizando os corpos".

Trabalho

O Sesi, a igreja católica e as empresas carboníferas, segundo ela, foram as responsáveis pela vinda das freiras, que tiveram destacado papel na vida das crianças e suas famílias naquele período. As freiras ensinam as mães a darem banhos nos filhos. As crianças passavam boa parte do tempo na rua. Umas trabalhavam como "almoceiros" (foto), levando refeição para os trabalhadores das minas de carvão. Algumas retiravam restos de carvão, a picareta, das pontas de pedra (montanhas de rejeitos) e vendiam.  Outras vendiam hortaliças em balaios, de porta em porta. "Isso mostra que o salário do mineiro não era tão bom como se propaga porque seus filhos tinham que trabalhar para ajudar no sustento da família", frisa.

Brincadeiras e Escola

Apesar da pobreza material e do trabalho infantil, as crianças brincavam com bolinhas de gude, pião e boi de mamão e faziam pequeniques. Usavam cascas de coqueiro como escorregador e os tanques de madeira (cochos) como canoa para pescar no agude onde hoje existe a Praça da Chaminé, no bairro Próspera. Jogavam futebol nos times criados pelas freiras e cantavam no coral infantil, que depois se transformou em banda de música. As meninas brincavam de bonecas, cozinhadinhos, e com os meninos. Com a separação dos sexos, feito pelas freiras, muitas meninas aprendem a bordar e ter outras atividades exclusivas de meninas. As que viviam em vilas da CSN, recebiam brinquedos distribuídos pela estatal.

Num período (1920) em que 70% da população brasileira era totalmente analfabeta, a maioria dos filhos dos trabalhadores mineiros tinha igual sorte. As de Criciúma, estudavam nas escolas construídas e mantidas pelas mineradoras, que recebiam auxílio da prefeitura: José Martinelli, na Próspera; Fiúza da Rocha, na Mina União; e Paulo de Frontim, no Santo Antonio.      
03 de julho de 2006 às 14:58
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