Ciência Unesc

Inovação: a melhor (e talvez a única!) saída para enfrentar a crise

Oscar Montedo (Coordenador adjunto do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais

A região carbonífera catarinense sempre mostrou forte crescimento econômico, apresentando indicadores de desempenho que a colocaram em posição de destaque no cenário econômico estadual. Esta pujança foi inicialmente alavancada pelo setor carbonífero, mas posteriormente também impulsionada pelos setores cerâmico, metal-mecânico, de descartáveis plásticos, de vestuário e de tintas e vernizes.

Entretanto, é de conhecimento público que a região carbonífera catarinense tem apresentado acentuada queda em seu desenvolvimento em relação a outras regiões do Estado, como Florianópolis, Blumenau e Joinville. Em relação à população, Criciúma tem apresentado redução na participação percentual da população estadual desde a década de 50, passando de 3,25 para 3,09%, enquanto que as demais cidades citadas têm aumentado significativamente sua participação relativa.

Dentre vários fatores que têm causado este fenômeno, a retração da economia é um dos principais e tem invertido o sentido migratório da população, que tem buscado melhores oportunidades de emprego nas regiões norte e nordeste do Estado. Além disso, Criciúma já foi considerada a quinta cidade catarinense em importância econômica e hoje ocupa a décima primeira colocação.

Dentre as várias alternativas possíveis de serem empregadas para reverter este quadro, pode-se citar a formação de recursos humanos mais qualificados em nível de engenharia e a busca pela inovação.

Neste sentido, a Unesc criou neste ano o Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais – PPGCEM, que por meio do curso de mestrado visa qualificar o profissional da área tecnológica para enfrentar os novos desafios apresentados, no sentido de se inovar em produtos e processos e buscar a valorização dos resíduos industriais. Além da formação de recursos humanos qualificados, o PPGCEM estimula o desenvolvimento de projetos de P&D+I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) em parceria com as empresas.

As indústrias da região, especialmente dos setores cerâmico, de minerais, metalúrgico, plástico e químico (tintas e solventes), serão beneficiadas com o curso a partir dos projetos de P&D+I desenvolvidos nas dissertações. O curso possui duas linhas de pesquisa: Desenvolvimento e processamento de materiais e Resíduos. A primeira trata do projeto de novos produtos ou processos na área de materiais ou da otimização dos existentes. A segunda linha de pesquisa considera os resíduos industriais como subprodutos que, devidamente tratados, podem ser transformados em produtos industriais, empregando-se a metodologia de valorização de resíduos industriais.

Além disso, o PPGCEM disponibiliza seu experiente e qualificado corpo docente para elaborar projetos de captação de recursos financeiros junto aos organismos de fomento à inovação para dar suporte financeiro às pesquisas a serem realizadas. Ao público em geral, é uma oportunidade inigualável de incremento nas competências profissionais e pessoais, buscando a qualificação em nível de mestrado em uma das principais universidades do Estado e em uma das principais e valorizadas áreas de conhecimento na atualidade, a área de engenharia.

O Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais está com as inscrições abertas de 3 de outubro a 30 de novembro, com as aulas iniciando em março de 2012. Para se inscrever, os interessados devem se dirigir à sala 28 do Bloco Administrativo da Unesc de segunda a sexta-feira, das 14h às 21h.

Mais informações poderão ser obtidas através do telefone (48) 3431-2775 ou por meio do endereço www.unesc.net/ppgcem.


 

16 de novembro de 2011 às 20:28
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Farmacogenética: medicamento certo na dose certa para o paciente certo

Renan Pedra de Souza (Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde)

Considere a seguinte situação: você acorda numa manhã com algum desconforto. Esses sintomas tornam-se mais intensos durante o dia e você decide buscar ajuda de um profissional de saúde. Exames de sangue, de imagem, visitas a outros especialistas e por fim o esperado diagnóstico e a prescrição do medicamento. Para alguns pacientes esse será o fim dos sintomas inicialmente observados, mas para outros pacientes há ainda a chance de não responder ao tratamento ou mesmo manifestar efeitos colaterais, gerando a necessidade da substituição do medicamento.

Considere ainda uma segunda situação: enquanto acredita que sua dor de cabeça deve ser tratada com uma medicação, seu vizinho utiliza uma segunda medicação para os mesmos sintomas e costuma dizer: "Não sei por que você não toma a mesma medicação que eu, pois sempre resolve para mim". Por vezes você já tentou usar a mesma medicação que o vizinho, mas não consegue o alívio da dor de cabeça com aquela medicação.

Por que há medicamentos que funcionam para alguns pacientes e para outros não? Por que algumas pessoas manifestarão efeitos colaterais e outras não, usando o mesmo medicamento? Essas perguntas são frequentes e cada vez mais pesquisadores buscam essas respostas. É intuitivo dizermos que somos diferentes para uma série de características e que esse conjunto de diferenças nos faz seres únicos, já que nem mesmo parentes próximos são iguais a nós. Sabemos que tais diferenças não estão somente em características físicas, mas, por sermos geneticamente diferentes, podemos apresentar diferenças em processos que estão associados com o processamento de um medicamento.

Tais interações entre a estrutura genética de cada paciente e as medicações são especialmente evidentes para algumas medicações. A varfarina, um medicamento utilizado para "afinar" o sangue prevenindo a formação de coágulos sanguíneos, é um dos melhores exemplos. Sabe-se que com uma dose muito alta o sangue "afinará" demais, correndo o risco de hemorragia e, por outro lado, o sangue continuará "grosso" se a dose for baixa demais. Há a possibilidade de ajustar a dose utilizando informações genéticas, evitando assim uma dose baixa ou alta demais, o que favorece a resposta ao tratamento e reduz a chance de efeitos colaterais.

Imagine se o profissional da saúde pudesse considerar essas informações durante o processo de escolha do medicamento e conseguisse então sempre indicar o medicamento certo na dose certa. Esse é campo de estudo de uma das áreas da medicina personalizada que é conhecida como farmacogenética. A farmacogenética busca entender as relações entre a variabilidade genética das pessoas e medicamentos específicos com o intuito de aumentar a resposta ao tratamento, reduzindo a chance de ocorrerem efeitos colaterais.

Embora seja uma área relativamente nova de pesquisa, a pesquisa em farmacogenética possui altos investimentos devido à possibilidade destes resultados serem facilmente utilizados por profissionais de saúde na prática clínica. Grande parte das relações já descobertas encontra-se em fases de testes para o uso em larga escala de pacientes e os resultados são promissores para vários grupos de medicamentos.

Comprometido com essa área de pesquisa, o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unesc promoverá o 8º Simpósio de Pesquisa em Ciências da Saúde, nos dias 22 e 23 de maio de 2012, na Universidade, abordando temas relacionados ao uso da variabilidade genética como instrumento para auxiliar o diagnóstico e a prescrição de medicamentos. Venha conferir!

01 de novembro de 2011 às 16:37
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Arborização das Cidades: direito à biodiversidade e à cidade saudável

Teresinha Maria Gonçalves e Robson dos Santos (professores do PPGCA)

A arborização urbana constitui atualmente uma das mais relevantes atividades da gestão urbana, devendo fazer parte dos planos, projetos e programas urbanísticos das cidades, que, com o crescimento acelerado, resultante do acentuado aumento populacional, têm comprometido a quantidade e a qualidade de seus espaços livres e áreas verdes. Estas são constatações do Grupo Interdisciplinar e Interinstitucional de Estudos e Pesquisas sobre Meio Ambiente e Espaço Urbano (GIPMAUR), ligado ao Mestrado em Ciências Ambientais (PPGCA) da Unesc.

Nossas paisagens urbanas refletem muito de nossa história e de nossos valores culturais e simbólicos. A arborização, como um dos componentes dessa paisagem, é uma representação cultural que materializa nossa visão de natureza e de sociedade. Estudar as árvores urbanas é, portanto, ampliar a nossa compreensão do mundo que nos cerca.

A vegetação do meio urbano desempenha diversas funções ligadas e influenciadas por aspectos sociais, culturais, econômicos e sobretudo ecológicos, interferindo fortemente nas condições de conforto. São considerados benefícios ecológicos da arborização urbana: a) estabilidade microclimática (diminuição da temperatura e aumento da umidade do ar); b) melhoria das condições do solo urbano; c) melhoria do ciclo hidrológico, influência no balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo e provocando evapotranspiração mais lenta; d) redução da poluição atmosférica; e) melhoria das condições de conforto acústico; f) redução da intensidade da luz refletida e g) aumento da biodiversidade.

São benefícios estéticos: a) diminuição da poluição visual; b) dinâmica imposta pelas árvores, com alternância de sua aparência em função das estações do ano e de seu estado fenológico (floração e frutificação) e renovação da paisagem urbana quebrando a monotonia e c) reduz a frieza típica das construções. A função social está diretamente relacionada à oferta de espaços para o lazer da população, em especial às populações de baixa renda. O contato do homem com a natureza leva à atenuação do estresse, doença comum do homem moderno residente em áreas urbanas.

A natureza sempre foi aliada dos espaços públicos da cidade, disso deduzimos que homem e natureza pertencem ao mesmo espaço enquanto concebido como democrático e o lócus da vida. A civilização ocidental em toda sua história, e com a colaboração da ciência cartesiana, separou o homem da natureza, onde a relação antropocêntrica se estabeleceu. Nesse início de século e de milênio, a consciência ambiental tem se desenvolvido graças aos esforços das ciências ambientais, da conquista da cidadania e da participação popular.

Pesquisas realizadas pelo GIPMAUR constatam que há no imaginário da população de Criciúma uma positividade latente para a arborização da cidade. As pessoas se referem à arborização como um dos componentes de promoção da saúde, bem-estar, purificação do ar, embelezamento da cidade. As pessoas ligam a arborização da cidade a quatro temas: saúde, bem-estar, cidadania e natureza.

A arborização das cidades, que seria uma forma importante para a contribuição da qualidade da vida urbana, não é vista com seriedade pela maioria dos gestores municipais, que, na escala de prioridades, a coloca como um elemento supérfluo para embelezamento da cidade.

As cidades do sul de Santa Catarina não possuem inventário quali-quantitativo de sua arborização e são poucos os estudos disponíveis de seus fragmentos florestais remanescentes, enfocando a utilização das espécies nativas no meio urbano.

Pelo exposto sugere-se:
Criação de programa efetivo de Arborização Urbana, em função do zoneamento da cidade, considerando-se as características de cada local, fluxo de pessoas e de veículos, largura de calçadas e ruas, além de outros parâmetros, tais como relevo e riqueza da flora local; incentivar o plantio de árvores ao longo das vias públicas, dando preferência às espécies nativas, visando reduzir a elevada proporção atualmente observada de espécies alóctones (exóticas); realizar inventário quali-quantitativo da arborização; gerar banco de dados pela observação e monitoramento da arborização pública.

17 de outubro de 2011 às 16:28
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90 anos do educador brasileiro Paulo Freire

Janine Moreira (Professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação)

Paulo Freire é o educador brasileiro conhecido mundialmente pelo que se convencionou chamar de método de alfabetização de adultos. Tendo vivido entre 1921 e 1997, iniciou seus trabalhos de alfabetização junto às camadas de trabalhadores do Nordeste brasileiro, região em que nasceu, na década de 1950. O Brasil vivia, na visão de Freire, um processo de construção de uma sociedade democrática. A alfabetização de adultos era necessária como instrumento de inserção crítica do sujeito na história, visando a uma sociedade mais igualitária.

Mas, para isso, não poderia estar baseada em uma educação impositiva, mecânica, marcada pela transferência do saber do professor ao aluno – o que o educador chamou de “educação bancária”, centrada nos “depósitos” de saber que o professor faz nos alunos –, mas uma alfabetização centrada na relação estabelecida entre sujeitos, educador e educando. Estes têm conhecimentos diferentes da realidade, mas essa diferença não deve caracterizar uma desigualdade entre estes dois sujeitos.

A essa educação Freire nomeou de “problematizadora” ou “libertadora”, pois a partir do contexto de vida dos educandos se refletiria o mundo vivido, no intento de transformá-lo, indo ao encontro da capacidade humana de criação, de re-invenção, negando a apatia, a acomodação. Freire, então, trabalhou para o estabelecimento de uma educação que pudesse romper com a “cultura do silêncio”, com o “medo da liberdade”, com a transformação de uma sociedade que mantinha estabelecidos oprimidos e opressores.

Quando se estabeleceu a ditadura militar, Freire foi preso por 70 dias e se exilou com a família, tido como subversivo. Mais tarde, ele dizia concordar com esse termo, pois ser subversivo significava, naquele contexto, não aceitar as injustiças e querer intervir no mundo, então ele era subversivo.

Hoje, quase 30 anos após a abertura política, podemos pensar quem são os oprimidos e os opressores, se a “cultura do silêncio” foi rompida, se o “medo da liberdade” foi superado. E, para tanto, podemos pensar em que bases se situa a educação brasileira, se bancária ou problematizadora/libertadora. E quando se fala de educação, é necessário pensar na amplitude que esse termo possui, ou seja, não apenas nos processos formais, estabelecidos nas instituições educativas, mas informais, aqueles que ocorrem nas comunidades, nas unidades de saúde, nas instituições não propriamente educativas, no contexto rural e em tantos outros locais em que se busca, a partir da relação entre as pessoas, algum processo formador.

Quem são os oprimidos do Brasil atual? Quem são os opressores? Por que vemos, nas salas de aula universitárias, estudantes muito mais inquietos e curiosos no início dos seus cursos do que no final, quando estão prestes a sair para o mercado de trabalho? Qual será sua atuação enquanto profissionais? Por que vemos ainda “a cultura do silêncio” em tantos momentos da vida cotidiana, principalmente naqueles caracterizados por conflitos ou disputas? Será que ainda é presente o “medo da liberdade”, aquele sentimento de temor frente à responsabilidade de intervir no mundo, de mudar o estabelecido, aquele temor que nos convida a escolhermos as escolhas dos outros e não as próprias?

O Mestrado em Educação da Unesc lembra os 90 anos desse educador brasileiro que se tornou universal, a serem comemorados na próxima segunda-feira, dia 19 de setembro. Paulo Freire é um dos teóricos estudados no Mestrado, junto a tantos outros que nos ajudam a refletir e a construir uma educação voltada para a libertação dos homens, para a construção de um mundo mais igual, em que as pessoas possam pensar e atuar sem medo, e se sentirem construtoras de si e do mundo.

E para quem desejar saber mais a respeito de Paulo Freire, no site www.paulofreire.org encontram-se as obras do autor, disponíveis para o público.

03 de outubro de 2011 às 16:56
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Iparque: instrumento de desenvolvimento da região sul de Santa Catarina

Elidio Angioletto (Diretor do Iparque)

O nascimento do Iparque (Parque Científico e Tecnológico) na região sul de Santa Catarina pode ser interpretado como o esforço da Unesc para ajudar a resgatar e promover o desenvolvimento regional. Muitos são os formatos adotados para parques, com diferentes estratégias e ações que buscam de forma simbiótica a integração a projetos de desenvolvimento locais e o estímulo à consolidação da indústria de base tecnológica.

Quando falamos de parques científicos e tecnológicos deve estar presente a ideia de que as empresas são a razão maior da existência de um parque. Se elas não estiverem presentes na forma de incubadas ou de empresas residentes, no local denominado parque, este passa a ter outra denominação, que pode ser por exemplo instituto, centro ou agência.

Da própria definição da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores) “um parque tecnológico é um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológica, planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque. Trata-se de um empreendimento promotor da cultura de inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza de uma região”.

O Iparque veio com essa missão, de promover a cultura de inovação e do desenvolvimento e transferência de tecnologia, somado a vontade de estruturar e alavancar a criação de novos empreendimentos. Assim, já conta com empresas incubadas e está em tratativas para abrigar empresas graduadas com importante apelo tecnológico. Como meio, congrega diversos institutos onde já se utiliza o conhecimento e tecnologia de ponta e ainda possui o importante aporte da academia com o programa de mestrado próprio recomendado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em Ciências e Engenharia de Materiais.

Essa conjuntura criou um efeito sinérgico que está verdadeiramente abrindo novas portas para a região sul em áreas de conhecimento e de investimentos com pouca tradição nessa região, como a biotecnologia e o fornecimento de matéria prima para indústrias farmacêuticas. Projetos inovadores na área de novos materiais também estão sendo trabalhados com real possibilidade de alavancar mudanças econômicas e sociais que poderão mudar a realidade regional.

19 de setembro de 2011 às 16:25
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