Ciência Unesc

Farmacogenética: medicamento certo na dose certa para o paciente certo

Renan Pedra de Souza (Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde)

Considere a seguinte situação: você acorda numa manhã com algum desconforto. Esses sintomas tornam-se mais intensos durante o dia e você decide buscar ajuda de um profissional de saúde. Exames de sangue, de imagem, visitas a outros especialistas e por fim o esperado diagnóstico e a prescrição do medicamento. Para alguns pacientes esse será o fim dos sintomas inicialmente observados, mas para outros pacientes há ainda a chance de não responder ao tratamento ou mesmo manifestar efeitos colaterais, gerando a necessidade da substituição do medicamento.

Considere ainda uma segunda situação: enquanto acredita que sua dor de cabeça deve ser tratada com uma medicação, seu vizinho utiliza uma segunda medicação para os mesmos sintomas e costuma dizer: "Não sei por que você não toma a mesma medicação que eu, pois sempre resolve para mim". Por vezes você já tentou usar a mesma medicação que o vizinho, mas não consegue o alívio da dor de cabeça com aquela medicação.

Por que há medicamentos que funcionam para alguns pacientes e para outros não? Por que algumas pessoas manifestarão efeitos colaterais e outras não, usando o mesmo medicamento? Essas perguntas são frequentes e cada vez mais pesquisadores buscam essas respostas. É intuitivo dizermos que somos diferentes para uma série de características e que esse conjunto de diferenças nos faz seres únicos, já que nem mesmo parentes próximos são iguais a nós. Sabemos que tais diferenças não estão somente em características físicas, mas, por sermos geneticamente diferentes, podemos apresentar diferenças em processos que estão associados com o processamento de um medicamento.

Tais interações entre a estrutura genética de cada paciente e as medicações são especialmente evidentes para algumas medicações. A varfarina, um medicamento utilizado para "afinar" o sangue prevenindo a formação de coágulos sanguíneos, é um dos melhores exemplos. Sabe-se que com uma dose muito alta o sangue "afinará" demais, correndo o risco de hemorragia e, por outro lado, o sangue continuará "grosso" se a dose for baixa demais. Há a possibilidade de ajustar a dose utilizando informações genéticas, evitando assim uma dose baixa ou alta demais, o que favorece a resposta ao tratamento e reduz a chance de efeitos colaterais.

Imagine se o profissional da saúde pudesse considerar essas informações durante o processo de escolha do medicamento e conseguisse então sempre indicar o medicamento certo na dose certa. Esse é campo de estudo de uma das áreas da medicina personalizada que é conhecida como farmacogenética. A farmacogenética busca entender as relações entre a variabilidade genética das pessoas e medicamentos específicos com o intuito de aumentar a resposta ao tratamento, reduzindo a chance de ocorrerem efeitos colaterais.

Embora seja uma área relativamente nova de pesquisa, a pesquisa em farmacogenética possui altos investimentos devido à possibilidade destes resultados serem facilmente utilizados por profissionais de saúde na prática clínica. Grande parte das relações já descobertas encontra-se em fases de testes para o uso em larga escala de pacientes e os resultados são promissores para vários grupos de medicamentos.

Comprometido com essa área de pesquisa, o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unesc promoverá o 8º Simpósio de Pesquisa em Ciências da Saúde, nos dias 22 e 23 de maio de 2012, na Universidade, abordando temas relacionados ao uso da variabilidade genética como instrumento para auxiliar o diagnóstico e a prescrição de medicamentos. Venha conferir!

01 de novembro de 2011 às 16:37
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