Ciência Unesc

Arborização das Cidades: direito à biodiversidade e à cidade saudável

Teresinha Maria Gonçalves e Robson dos Santos (professores do PPGCA)

A arborização urbana constitui atualmente uma das mais relevantes atividades da gestão urbana, devendo fazer parte dos planos, projetos e programas urbanísticos das cidades, que, com o crescimento acelerado, resultante do acentuado aumento populacional, têm comprometido a quantidade e a qualidade de seus espaços livres e áreas verdes. Estas são constatações do Grupo Interdisciplinar e Interinstitucional de Estudos e Pesquisas sobre Meio Ambiente e Espaço Urbano (GIPMAUR), ligado ao Mestrado em Ciências Ambientais (PPGCA) da Unesc.

Nossas paisagens urbanas refletem muito de nossa história e de nossos valores culturais e simbólicos. A arborização, como um dos componentes dessa paisagem, é uma representação cultural que materializa nossa visão de natureza e de sociedade. Estudar as árvores urbanas é, portanto, ampliar a nossa compreensão do mundo que nos cerca.

A vegetação do meio urbano desempenha diversas funções ligadas e influenciadas por aspectos sociais, culturais, econômicos e sobretudo ecológicos, interferindo fortemente nas condições de conforto. São considerados benefícios ecológicos da arborização urbana: a) estabilidade microclimática (diminuição da temperatura e aumento da umidade do ar); b) melhoria das condições do solo urbano; c) melhoria do ciclo hidrológico, influência no balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo e provocando evapotranspiração mais lenta; d) redução da poluição atmosférica; e) melhoria das condições de conforto acústico; f) redução da intensidade da luz refletida e g) aumento da biodiversidade.

São benefícios estéticos: a) diminuição da poluição visual; b) dinâmica imposta pelas árvores, com alternância de sua aparência em função das estações do ano e de seu estado fenológico (floração e frutificação) e renovação da paisagem urbana quebrando a monotonia e c) reduz a frieza típica das construções. A função social está diretamente relacionada à oferta de espaços para o lazer da população, em especial às populações de baixa renda. O contato do homem com a natureza leva à atenuação do estresse, doença comum do homem moderno residente em áreas urbanas.

A natureza sempre foi aliada dos espaços públicos da cidade, disso deduzimos que homem e natureza pertencem ao mesmo espaço enquanto concebido como democrático e o lócus da vida. A civilização ocidental em toda sua história, e com a colaboração da ciência cartesiana, separou o homem da natureza, onde a relação antropocêntrica se estabeleceu. Nesse início de século e de milênio, a consciência ambiental tem se desenvolvido graças aos esforços das ciências ambientais, da conquista da cidadania e da participação popular.

Pesquisas realizadas pelo GIPMAUR constatam que há no imaginário da população de Criciúma uma positividade latente para a arborização da cidade. As pessoas se referem à arborização como um dos componentes de promoção da saúde, bem-estar, purificação do ar, embelezamento da cidade. As pessoas ligam a arborização da cidade a quatro temas: saúde, bem-estar, cidadania e natureza.

A arborização das cidades, que seria uma forma importante para a contribuição da qualidade da vida urbana, não é vista com seriedade pela maioria dos gestores municipais, que, na escala de prioridades, a coloca como um elemento supérfluo para embelezamento da cidade.

As cidades do sul de Santa Catarina não possuem inventário quali-quantitativo de sua arborização e são poucos os estudos disponíveis de seus fragmentos florestais remanescentes, enfocando a utilização das espécies nativas no meio urbano.

Pelo exposto sugere-se:
Criação de programa efetivo de Arborização Urbana, em função do zoneamento da cidade, considerando-se as características de cada local, fluxo de pessoas e de veículos, largura de calçadas e ruas, além de outros parâmetros, tais como relevo e riqueza da flora local; incentivar o plantio de árvores ao longo das vias públicas, dando preferência às espécies nativas, visando reduzir a elevada proporção atualmente observada de espécies alóctones (exóticas); realizar inventário quali-quantitativo da arborização; gerar banco de dados pela observação e monitoramento da arborização pública.

17 de outubro de 2011 às 16:28
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