Geografia

[ARTIGO DE OPINIÃO] Avaliar: por que e para quê?

[ARTIGO DE OPINIÃO] Avaliar: por que e para quê?
Fonte da imagem: Acesso em: 03 maio 2017 Disponível em: http://migre.me/wyuey Mais imagens

A avaliação é um dos processos mais difíceis e complexos no cotidiano escolar, tanto para o aluno quanto para o professor. Existem diferentes concepções de avaliação, dentre elas destacam-se: a classificatória, somatória, formativa, e a diagnóstica. Considero de suma importância na educação a avaliação formativa, assim darei ênfase para essa concepção.

Do meu ponto de vista, a avaliação formativa faz-se importante no ambiente escolar, pelo fato de que ela avalia o processo ensino-aprendizagem, fazendo com que o professor reveja sua metodologia, possibilitando uma tomada de decisão. Certamente, avaliar o processo ensino-aprendizagem é a forma mais justa que considero de se avaliar o aluno. A avaliação deve fazer com que o aluno pense e reflita sobre o conteúdo, para que assim consiga alcançar a compreensão do que está sendo trabalhado.

Normalmente, a avaliação é vista como uma maneira de saber se o aluno passará ou reprovará no ano letivo. Todavia, sabemos que uma avaliar não é somente a nota, por mais que ela carregue uma pontuação, ela não é apenas isso. O processo de avaliação deveria, também, ser uma maneira que possibilite o professor rever e analisar a metodologia utilizada. Assim, verificar se o método está acessível a todos e se, realmente, a maioria dos alunos conseguiram compreender o conteúdo trabalhado.

Há diferentes instrumentos para avaliar o aluno, podendo ocorrer na apresentação de trabalhos, em provas, em exames, em observação do professor com o aluno, lembrando que atualmente é mais comum que a mesma ocorra no final do processo de aprendizagem, porém ela deve ser realizada durante. A recuperação “deveria” ser para que o aluno recuperasse o conteúdo que já foi trabalhado, e obteve dificuldade para compreendê-lo e não somente para recuperar a “nota”.

Sabendo que cada instituição escolar possui o Projeto Político Pedagógico (PPP), e que neste documento contém as orientações de como o mesmo “deveria” funcionar, geralmente são norteados pela concepção histórico-cultural, porém, na prática acontece de uma forma tradicional esta avaliação. O feedback torna-se indispensável na educação, pois com este instrumento o professor consegue fazer uma autoavaliação, sobre sua metodologia, pois se a maioria dos alunos obtiveram pouca compreensão o problema talvez não esteja com o mesmo, e sim talvez na metodologia do professor que não está sendo acessível a todos.

Nesse sentido, é imprescindível que o profissional docente adquira uma avaliação totalmente formativa, para isso ele deve ter uma metodologia bem elaborada, bem como um estudo mais aprofundado sobre o conteúdo trabalhado com o aluno, sem que haja a fragmentação do saber.  É aqui é o ponto principal pelo qual a avaliação formativa não está sendo executada em nossa educação, porque talvez o profissional entenda que é apenas de uma única maneira que se ensina e que se aprende. Além disso, esse profissional talvez não esteja disposto a abrir espaço para essa concepção de avaliação, continuando assim a reproduzir uma educação tradicional, a qual lhe exigirá menos.

Portanto, avaliar é difícil, mas se a avaliação fosse feita com base na formativa, a mesma tornar-se-ia mais justa para o aluno e para o professor. Pois, essa engloba o processo ensino-aprendizagem e não somente a etapa final, haja vista que aprendizagem é contínua, ela não pode e nem deve ser fragmentada. A função principal da avaliação é encorajar o aluno, ajudá-lo a desenvolver-se e não o desencorajá-lo. Muitas avaliações fazem com que os alunos se sintam fracassado, e não é essa a função da avaliação.

Enfim, a avaliação é necessária no processo da educação, mesmo que essa carregue uma nota, sendo que “infelizmente” irá definir se o aluno compreendeu ou não o conteúdo trabalhado, tornando-se uma avaliação classificatória ao fim do seu processo. Todavia, a nota em si, não consegue dar conta de analisar se o aluno atingiu ou não a aprendizagem. Assim como já mencionado, a avaliação serve também como um feedback fundamental para o professor rever sua metodologia.

Juliana Ugioni Daminelli

Curso de Pedagogia – 5ª fase

 

Por: Claiton Alves 10 de maio de 2017 às 14:48
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[ARTIGO DE OPINIÃO] Família: primeira educação

[ARTIGO DE OPINIÃO] Família: primeira educação
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A família é a base de toda uma vida, pois quando os pais estão esperando seu filho, eles esperam dar além de amor o melhor a eles, e preveem um futuro brilhante.  Porém, muitas vezes não é isso que acontece, pois, os pais e/ou responsáveis pensam só em trabalhar e compensar os filhos com brinquedos, roupas de marcas para suprir a ausência. Assim, sem os pais, presentes para o orientar, dar carinho e cobrar quando necessário, a primeira formação da educação da criança fica comprometida.

Um dos pontos fracos na educação da criança é a dificuldade que os pais encontram em dar limites aos seus filhos. Sem limites, o comportamento da criança muitas vezas deixa a desejar, podendo muitas vezes gritar com seus pais, chegando a agredi-los, quando contrariados ou quando não ganham o que querem. Ou mesmo, sendo mal-educados com os que convivem, ou pessoas mais velhas e nem tendo respeito e boas atitudes com as pessoas em geral.

Diante disso, a falta da educação familiar reflete na aprendizagem escolar. É notável a criança que não teve a primeira educação, pois o comportamento na escolar torna-se reflexo dos atos tidos, vividos ou assistidos em casa. Consequentemente, na escola a criança terá dificuldades de convívio e aprendizagem, haja vista que a educação familiar deve ensinar a uma boa educação e a socialização da criança com as outras pessoas.

          Por este motivo, é fundamental que o contexto e a educação da criança em sua casa sejam uma educação para que esta não tenha problemas com a sociedade. A criança chega na escola com a expectativa e com o intuito de se alfabetizar, desenvolver o raciocínio logico, de aprender conteúdos de diferentes áreas e entre outros, enfim a busca por conhecimento científico. Porém, cabe a escola ter direito de ensinar a criança e não os educá-los com a primeira educação. Todavia, na maioria das escolas se ensina alguns aspectos da primeira educação, mesmo sendo de responsabilidade da família. Sobretudo, o que se ensina é para que se tenha uma pessoa de boa índole.

Assim, acredito que são necessárias a convivência e a presença dos pais na vida das crianças e dos jovens, para dar carinho e uma boa educação ao seu filho, sendo que a criança por não ter limites ela fica agressiva, e desobediente.  Sem o acompanhamento dos pais, a criança transfere sua agressividade e descontentamento à escola, e acaba se distanciando o verdadeiro sentido de estar em um ambiente escolar. Em suma, é imprevisível que escola e pais atuem em parcerias na educação das crianças, haja vista que o maior interesse é no sucesso das crianças, que se tornarão cidadãos de respeito para com a sociedade.

 

Celina Moretti Zanette

Curso de Pedagogia – 5ª fase 

Por: Claiton Alves 04 de maio de 2017 às 13:29
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[ARTIGO DE OPINIÃO] Futebol não é só um jogo

[ARTIGO DE OPINIÃO] Futebol não é só um jogo
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Nos últimos anos, o calendário do futebol nacional vem sido discutido para ter modificação na fórmula de torneios estaduais, (que tem uma importância no contexto histórico do futebol brasileiro), regionais e nacionais, a fim de que todos os clubes possam ter um calendário regular. Os times grandes têm um calendário inchado, ou seja, um ano inteiro, ao contrário dos pequenos que tem pouco menos de 3 meses, logo após dispensam jogadores, comissão técnica e entre outros. E fecham suas portas.

Desde que o futebol começou no país, os clubes iam sendo fundados e entrando nos campeonatos estaduais, que na época tinha de grande importância e não existia campeonato nacionais. Mas, tinha as competições interestaduais, como a Taça Rio-São Paulo (extinta em 2002). Os clubes não tinham muitos jogos oficiais, e faziam excursões, pelo estado, país ou pelo mundo.

Ao longo do tempo com a criação dos campeonatos nacionais em 1959, os clubes foram se adequando, em 1971   campeonato brasileiro foi criado e desde então foi sendo modificando a fórmula a cada ano. Somente em 2003 é que o Brasileirão adotou a fórmula de pontos corridos: todos contra todos, que até hoje é utilizado. Também foi adotado na segunda divisão em 2006, e houve modificações em 2009 na terceira divisão.

Com o passar dos anos foi criada mais uma divisão do futebol nacional, como a Série D em 2009, a quarta divisão, que regularizou calendário de 40 equipes menores, atualmente ampliada para 68. O processo de classificação utilizada qualificar para a competição é pelo dos estaduais. Mas com a abertura da nova divisão foi pouco porque só 15% dos clubes ainda têm um calendário para o ano.

O calendário atual não atende a lógica do calendário internacional ao promover jogos de clubes nacionais em data FIFA (Fedération Internationale de Football Association) como por exemplo, uma rodada de campeonato brasileiro no mesmo dia ou entre o período de Data FIFA em que a Seleção Brasileira joga, por isso alguns clubes jogam sem seus principais jogadores. (Data FIFA são jogos das seleções nacionais) (TRIVELA, 2017).

Por isso, todo ano tem esse grande debate: a reformulação do calendário, O que se pensar? O que fazer? Como modificar? Então, foi fundado em 2013 o movimento “Bom Senso FC”, com 5 pontos objetivos, um deles é o ajuste do atual calendário nacional, esse movimento perdeu força em 2016 e acabou extinto, mas a discussão continua. A proposta era da criação da Série E, quinta divisão regionalizada, que incluiria cerca 432 clubes, promovendo a mudança em todo o calendário nacional. Assim como, favoreceria a todos os clubes menores do país que tivessem uma temporada completa, sem se preocupar com a escassez de jogos, dispensa de jogadores e comissão técnica, falta de público, problemas financeiros e a falta de visibilidade de patrocinadores.  Os dois últimos são uma das causas do atraso de salários dos jogadores (BOMSENSO, 2017).

Para os jogadores, seria de grande importância a mudança do calendário, por conta do atraso de salários, por falta de dinheiro dos clubes e o desemprego que atinge cerca de 20 mil profissionais. Muitos jogadores mantêm o sonho de ser “jogador de futebol”, como alguns boleiros que jogam pelo dinheiro e fama, bem como para dar uma vida melhor às famílias ou porque amam futebol ou, talvez, poder todas as essas opções.

Em minha opinião, concordo com o extinto “Bom Senso FC” pela mudança do regulamento e a estrutura do calendário do futebol brasileiro. Pois, favoreceria todos os clubes do país, seja Santos, Corinthians, Criciúma e outros times grandes. Os números de jogos são em média de 50, 60, 70 jogos. Alguns times, como Atlético Tubarão, Novo Hamburgo e etc., jogam em média 10, 20, 30, ou menos que isso.

Dessa foram, para que não se tenha problemas, com salários, escassez de jogos e outros já citados, a melhor forma é a criação de uma nova divisão, ou seja, uma quinta divisão. Isso não significa o fim dos tradicionais campeonatos estaduais. Apesar de alguns jornalistas acharem que com os estaduais deveriam acabar. Para eles, o estadual não traz muita emoção e interesse como era antigamente, no entanto eles cobram dos times grandes o título anual, caso não ganhem a mídia divulga que o time está crise. Isso gera uma grande polêmica. Não sou a favor do fim dos estaduais, só que eles sejam mudados e se tornem divisões inferiores, assim os times grandes não jogariam os estaduais. Esses torneios só se ajustariam no calendário, isso causa uma grande discussão todos os anos, uma discussão utópica! Mas, que é sempre debatida com esperança de uma modificação no futebol nacional, haja vista que futuramente poderá acontecer! Todavia, é preciso ter paciência com a autoridade máxima do futebol, afinal “Futebol não é só um jogo”!!

 

 

Por Andrio de Almeida Nunes

Curso de Geografia - 5ª fase

 

 

REFERÊNCIAS

 

TRIVELA.  Como reforçar os estaduais e regionais sem prejudicar o Brasileiro? Aí vai uma ideia insana. Disponível em < http://trivela.uol.com.br/> Acesso em 19 abril 2017.

BOMSENSO. Calendário mais oportunidade para quem joga menos & mais preparação para quem joga mais. Disponível em: <www.bomsensofc.org.br.> Acesso 19 em abril 2017.

Por: Claiton Alves 04 de maio de 2017 às 13:23
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[ARTIGO DE OPINIÃO] Geografia e Religião: saberes que se relacionam

[ARTIGO DE OPINIÃO] Geografia e Religião: saberes que se relacionam
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A Geografia da Religião embora tenha surgido nos últimos anos em âmbito acadêmico e científico, não é um novo ramo dentro do pensamento geográfico como se pensa. Isso se dá pelo fato das primeiras correntes de pensamento, que foram contribuindo para a criação da geografia como disciplina. Nesse processo, foram desenvolvidas questões relevantes sobre o comportamento do homem no meio desencadeando de forma indireta, alguns conceitos na área de religião.

Abrangendo de forma inerente, o termo “Geografia da Religião” se enquadra na Geografia humana que procura assimilar o tema da religião, associado ao da ciência geográfica. Assim, há uma busca pelo melhor entendimento do fenômeno religioso como comportamento, cultura, postura intelectual e moral do homem, sem concernir a crença do mesmo ou introduzir doutrinas, outrossim, valoriza a diversidade religiosa da espécie humana e suas respectivas instituições.

Conforme Gil Filho (2009, p. 2), a Geografia e a Religião [...] por vezes, são compreendidas como saberes humanos diferentes, mas com muitas relações harmônicas. Nesse quesito, existem duas formas que se correlacionam: a religião normatiza o comportamento do homem em relação ao espaço; e, por sua vez, o conhecimento geográfico proporciona capacidades planejadas de atuação no mesmo espaço.

Geografia da Religião tem como objetivo principal estudar e avaliar o espaço das diferentes denominações, abordando o papel do sagrado e do profano na organização espacial. Assim, a junção de Geografia e Religião é viva, visível e totalmente positiva.

     As pesquisas sobre a religião num campo geográfico vêm sendo desenvolvidas a passos curtos, pois são mínimos os grupos de discussão sobre o mesmo. Destaco aqui as pesquisas interdisciplinares do Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER) e no contexto específico da Geografia, as ações do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações (NEER), que mantém uma linha de pesquisa em Geografia da Religião, bem como o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (NEPEC). Essas pesquisas devem-se multiplicar em todo o país, todavia, sinto certa resistência por parte dos geógrafos de irem além da análise funcional do fenômeno religioso, por insegurança de tratar assuntos como fé, doutrina, dogma, divino, etc. É preciso entender que a abordagem central da Geografia da Religião diz respeito ao ser humano como agente modificador do espaço, acerca dos valores religiosos adquiridos, o que não é uma espécie de catequização ou doutrinamento. Por conta desta falta de grupos de pesquisas, a Geografia da Religião não é bem vista nas universidades, nem mesmo como disciplina, embora existam em algumas instituições a disciplina, propriamente dita, como optativa ou não -obrigatória, o que, ao meu entendimento, é um grande avanço e instiga as demais universidades à aderirem o mesmo.

O espaço, tantas vezes aqui mencionado, é compreendido, segundo o geógrafo Milton Santos em seu livro Por uma geografia nova (1978) como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente. Assim como, por uma estrutura representada por semelhanças que estão acontecendo e manifestam-se por meio de processos e funções.

 Sendo assim, a valorização ou depredação do espaço geográfico pode ser entendido mediante aos geógrafos da religião, que darão ênfase ao fenômeno religioso ou instituição ali presente. Um exemplo mais recente encontra-se na cidade de Içara, em Santa Catarina, que em 2017 inaugurou o maior Santuário religioso do sul do estado. Só a construção do templo traz à tona a cultura cristã-católica, apresentando grandes peregrinações e romarias. Além, da incontestável introspecção que uma edificação dessa pode trazer para os fiéis. Trago esse Santuário, como exemplo, para entender a influência da religião no espaço inserido, sobretudo, no modelo de vida das pessoas que habitam o entorno desse complexo religioso.

     Fazer Geografia da Religião, por mais difícil que pareça, é tarefa necessária para a compreensão da sociedade, pois lida diretamente com o homem e sua denominação religiosa em relação ao espaço que vive. Reconhecer a religião apenas como sistema simbólico ou como ideologia, segundo Gil Filho (2002) é subestimá-la no seu aspecto mais legítimo e essencial: a sua sacralidade. Porém, aliando isso à Geografia, desencadeamos outras análises, como a de “explicar o ser humano na sociedade e sua ação positiva ou negativa no espaço”. Em suma, luto e prezo por uma Geografia da Religião mais estudada e explorada nas universidades brasileiras, seja como disciplina ou em grandes núcleos de pesquisa, fazendo assim, uma geografia mais rica e incisiva na compreensão da sociedade.

Por Luan Alves da Silva

Curso de Geografia – 5ª fase

 

Referências:

 

GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia da religião: Reconstruções teóricas sob o idealismo crítico. 2002. Disponível em: < http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/simposio2011/artigo2gil.pdf > Acesso em: 03 maio 2017.

 

GIL FILHO, Sylvio Fausto. Por uma Geografia do Sagrado. 2009. Disponível em: <http://www.nupper.com.br/home2/wp-content/uploads/5-por_uma_geografia_do_sagrado.pdf> Acesso em: 03 maio 2017.

Por: Claiton Alves 04 de maio de 2017 às 13:20
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[ARTIGO DE OPINIÃO] Aborto: os "pró vida" e os "pró escolha"

[ARTIGO DE OPINIÃO] Aborto: os
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“Um milhão de mulheres abortam todos os anos na França. Elas abortam em condição arriscada por causa da clandestinidade a que são condenadas, ainda que essa operação, se praticada sob supervisão médica, seja muito simples. Silenciamos sobre esses milhões de mulheres. Declaro ser uma delas. Declaro ter abortado. Da mesma maneira que demandamos acesso livre aos métodos contraceptivos, nós pedimos o aborto livre”.

Manifesto 343 ­- Simone de Beauvoir, 1971

 

As questões religiosas e morais acerca das discussões a respeito do direito à vida, são provavelmente as mais significantes quando se analisa a atual posição do estado brasileiro em relação ao aborto. SAGAM (1997) considera a questão do aborto com duas vertentes distintas os “pró-vida” e os “pró-escolha”. Durante séculos de existência a humanidade gosta de pensar em termos de opostos diferentes (DEWEY, 1938 apud SAGAM, 1997, p. 120). Acredito que algumas questões são apropriadas a nossa análise da conjuntura da legislação brasileira sobre esta questão, a) o estado deve interferir em uma escolha pessoal? b) por que a religião tem interferência nas questões sobre este tema? c) quando um feto é de fato uma vida?

O estado brasileiro, segundo o decreto de lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940, nos seus artigos 124 a 126 tornam crime o aborto no Brasil, sendo que no seu artigo 128, é  possível a prática em casos de estupro ou risco de vida para a mulher. (BRASIL, 1940). A declaração mundial dos direitos humanos em seu artigo terceiro diz que “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (DUDH, 1948, art. 3°). Baseando-se nesses pretextos constitucionais os “pró-vida” defendem com unhas e dentes a não legalização do aborto, por ser uma ameaça a vida, mas qual vida? Não a uma unanimidade de opiniões a respeito do aborto, mas alguns cientistas defendem que entre a terceira e a vigésima quarta semana. Outros defendem até a vigésima semana que a ocorrência de vida é nula, a não coerência entre a comunidade cientifica abre brechas para argumentos dos “pró-vida” em favor a não legalização. A igreja, principalmente, a católica e a evangélica vem defendendo que a vida ocorre a partir do momento da fecundação, e este já tem alma própria. O que pode ser um pouco contraditório, quando nos séculos de colonização a própria igreja católica considerava os indígenas e negros dois povos sem alma. Um atraso no pensamento religioso da época? Talvez, mas que murmura nos dias atuais. E o que dizer de uma bancada evangélica dentro de um senado federal dito “laico” pela constituição de 1988? Homens que vestem um terno e misturam política e religião como se estivéssemos no século XVI. Nesse período, a igreja era o centro político/decisório da sociedade, mas em pleno ano de 2017 do século XXI, acredito ser um pouco atrasado a interferência do pensamento religioso e conservador de uma bancada deste cunho, na qual prega regras religiosas baseadas em crenças de mais de vinte séculos, que obviamente não se aplicam a nosso tempo. Outro ponto que pode se mostrar contraditório com as questões religiosas são baseados em dados do ministério da saúde, os quais indicam que entre 44,9% e 91,6% do total das que têm experiência de aborto induzido declaram-se católicas. Entre 4,5% e 19,2% declaram-se espíritas, e entre 2,6% e 12,2% declaram-se protestantes (BRASIL, 2009).

 As propostas da frente “pró-escolha” das quais comungo, são que até a terceira semana de gestação o aborto seja descriminalizado totalmente, sem quais quer punição as mulheres que o fizerem. Com a legalização e a padronização dos atendimentos, a paciente passa a ter acompanhamento médico e psicológico, para ter certeza de sua escolha. Essa forma de atendimento possibilitaria uma discussão prévia antes de qualquer decisão ser tomada. Esse sistema é empregado em alguns países europeus e latino americanos como o Uruguai. Essas medidas apresentam resultados positivos, após a legalização a desistência subiu para 30% e não se registraram morte decorrentes desse procedimento. Apenas mais dois países da América Latina descriminalizam o aborto, são eles, Cuba e Guiana, sendo que a cidade do México também libera essa prática. É visto um atraso nas leis nos países latinos, Chile, Nicarágua e El Salvador que proíbem em quaisquer circunstâncias a prática. O processo de colonização de exploração por países católicos pode ser uma das causas desse atraso político.

Podemos levantar aqui outra questão relevante como argumento dos “pró-escolha”, a desigualdade social de classes é vista como um dos principais fatores para que ocorra a legalização do aborto. Por exemplo, o maior número de abortos encontra-se no nordeste e sudeste brasileiro, e a quantidade de mulheres negras que abortam são o dobro das mulheres brancas.  A educação também é um fator, quando mais de 30% das mulheres que abortam não tem instrução completa e outras 33% tem apenas ensino médio completo. Então, o aborto tem raça e classe?

Hoje no Brasil são mais de 850.000 abortos por ano (provocados), e mais de 75.000 mulheres morrem em consequência, do aborto de forma clandestina, em más condições higiênicas e de cuidados. Muitas abortam em casa com auxílio de medicamentos e um cabide de guarda roupa, ou até mesmo uma agulha de crochê, outras em clínicas clandestinas com maior “segurança” pagando valores absurdos para médicos de “araque” para na maioria das vezes levam a óbito muitas mulheres em cima de uma mesa de cirurgia.

A legalização não seria, necessariamente, colocar esse como um método contraceptivo, no qual a mulher recorreria sempre a ele. Pensando em um contexto mais rotineiro seria a pílula do dia seguinte um crime também?

Desse modo, é fundamental compreender a diferença de ser contra abortar e ser contra a legalização do aborto, essa questão deve ser vista de um ponto racional. Se você se posiciona contra o aborto, sem problemas! Quando você estiver grávida terá a livre escolha de não ter a gestação interrompida, mas não deve interferir nas escolhas de outras mulheres, as quais são livres e deveriam, sim, ser as donas de seus corpos, e não um estado corrupto, machista e controlador. Não é aceitável, que um estado com essas “qualidades” use de argumentos religiosos, bem como morais para defender suas opiniões baseadas em códigos canônicos de séculos atrás e judiciários de 1940.

Notem que em pleno ano de 2017, ainda seguimos um código penal com 77 ano. Frente a isso, deveríamos rever nossas leis, e notar que muitos dos artigos ali escritos não são mais aplicáveis nos dias atuais. Muito ainda deve ser discutido sobre o assunto, mas tenho claro que a legalização já passou do tempo de ser aprovada, já basta em pleno ano de 2017 que mulheres pobres morram e mulheres ricas abortem.

 

Por José Gustavo Santos da Silva

Curso de Geografia - 5ª fase

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/acervo_gestao_classificacao/referencias.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2017.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Aborto e saúde pública no Brasil: 20 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: >http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/livro_aborto.pdf. Acesso em: 30 abr. 2017.

 

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

 

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris. 10 dez. 1948. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/wpcontent/uploads/2014/12/dudh.pdf>.Acesso em: 30 abr. 2017.

 

SAGAM, Carl. Bilhões e bilhões na virada do milênio. São Paulo: Schwarcz, 1997. 173 p. Disponível em: <http://www.us.esags.edu.br/conteudo/releases/arquivo/bilhoesebilhoes-carl_sagan_f1963b30.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2017.

Por: Claiton Alves 03 de maio de 2017 às 15:13
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