[ARTIGO DE OPINIÃO] Geografia e Religião: saberes que se relacionam
A Geografia da Religião embora tenha surgido nos últimos anos em âmbito acadêmico e científico, não é um novo ramo dentro do pensamento geográfico como se pensa. Isso se dá pelo fato das primeiras correntes de pensamento, que foram contribuindo para a criação da geografia como disciplina. Nesse processo, foram desenvolvidas questões relevantes sobre o comportamento do homem no meio desencadeando de forma indireta, alguns conceitos na área de religião.
Abrangendo de forma inerente, o termo “Geografia da Religião” se enquadra na Geografia humana que procura assimilar o tema da religião, associado ao da ciência geográfica. Assim, há uma busca pelo melhor entendimento do fenômeno religioso como comportamento, cultura, postura intelectual e moral do homem, sem concernir a crença do mesmo ou introduzir doutrinas, outrossim, valoriza a diversidade religiosa da espécie humana e suas respectivas instituições.
Conforme Gil Filho (2009, p. 2), a Geografia e a Religião [...] por vezes, são compreendidas como saberes humanos diferentes, mas com muitas relações harmônicas. Nesse quesito, existem duas formas que se correlacionam: a religião normatiza o comportamento do homem em relação ao espaço; e, por sua vez, o conhecimento geográfico proporciona capacidades planejadas de atuação no mesmo espaço.
Geografia da Religião tem como objetivo principal estudar e avaliar o espaço das diferentes denominações, abordando o papel do sagrado e do profano na organização espacial. Assim, a junção de Geografia e Religião é viva, visível e totalmente positiva.
As pesquisas sobre a religião num campo geográfico vêm sendo desenvolvidas a passos curtos, pois são mínimos os grupos de discussão sobre o mesmo. Destaco aqui as pesquisas interdisciplinares do Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER) e no contexto específico da Geografia, as ações do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações (NEER), que mantém uma linha de pesquisa em Geografia da Religião, bem como o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (NEPEC). Essas pesquisas devem-se multiplicar em todo o país, todavia, sinto certa resistência por parte dos geógrafos de irem além da análise funcional do fenômeno religioso, por insegurança de tratar assuntos como fé, doutrina, dogma, divino, etc. É preciso entender que a abordagem central da Geografia da Religião diz respeito ao ser humano como agente modificador do espaço, acerca dos valores religiosos adquiridos, o que não é uma espécie de catequização ou doutrinamento. Por conta desta falta de grupos de pesquisas, a Geografia da Religião não é bem vista nas universidades, nem mesmo como disciplina, embora existam em algumas instituições a disciplina, propriamente dita, como optativa ou não -obrigatória, o que, ao meu entendimento, é um grande avanço e instiga as demais universidades à aderirem o mesmo.
O espaço, tantas vezes aqui mencionado, é compreendido, segundo o geógrafo Milton Santos em seu livro Por uma geografia nova (1978) como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente. Assim como, por uma estrutura representada por semelhanças que estão acontecendo e manifestam-se por meio de processos e funções.
Sendo assim, a valorização ou depredação do espaço geográfico pode ser entendido mediante aos geógrafos da religião, que darão ênfase ao fenômeno religioso ou instituição ali presente. Um exemplo mais recente encontra-se na cidade de Içara, em Santa Catarina, que em 2017 inaugurou o maior Santuário religioso do sul do estado. Só a construção do templo traz à tona a cultura cristã-católica, apresentando grandes peregrinações e romarias. Além, da incontestável introspecção que uma edificação dessa pode trazer para os fiéis. Trago esse Santuário, como exemplo, para entender a influência da religião no espaço inserido, sobretudo, no modelo de vida das pessoas que habitam o entorno desse complexo religioso.
Fazer Geografia da Religião, por mais difícil que pareça, é tarefa necessária para a compreensão da sociedade, pois lida diretamente com o homem e sua denominação religiosa em relação ao espaço que vive. Reconhecer a religião apenas como sistema simbólico ou como ideologia, segundo Gil Filho (2002) é subestimá-la no seu aspecto mais legítimo e essencial: a sua sacralidade. Porém, aliando isso à Geografia, desencadeamos outras análises, como a de “explicar o ser humano na sociedade e sua ação positiva ou negativa no espaço”. Em suma, luto e prezo por uma Geografia da Religião mais estudada e explorada nas universidades brasileiras, seja como disciplina ou em grandes núcleos de pesquisa, fazendo assim, uma geografia mais rica e incisiva na compreensão da sociedade.
Por Luan Alves da Silva
Curso de Geografia – 5ª fase
Referências:
GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia da religião: Reconstruções teóricas sob o idealismo crítico. 2002. Disponível em: < http://www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/simposio2011/artigo2gil.pdf > Acesso em: 03 maio 2017.
GIL FILHO, Sylvio Fausto. Por uma Geografia do Sagrado. 2009. Disponível em: <http://www.nupper.com.br/home2/wp-content/uploads/5-por_uma_geografia_do_sagrado.pdf> Acesso em: 03 maio 2017.
04 de maio de 2017 às 13:208 comentários
celina moretti zanette
14 de maio de 2017 às 21:09Oi Luan ótima reflexão sobre o tema religião e geografia. parabéns.
Andréa Rabelo Marcelino
11 de maio de 2017 às 00:13Ótima reflexão a cerca da religião e o espaço Geográfico.
Juliana Ugioni Daminelli
10 de maio de 2017 às 16:16Ótimo texto Luan, são situações que vivencio no meu dia a dia e não havia percebido, pois a religião certamente modifica o meio em que encontra-se.
Miriane Buss Roecker
10 de maio de 2017 às 16:09Parabéns. É de suma importância estudar a religião no âmbito da geografia, entendendo suas contribuições para o espaço e convívio do homem.
Magda Gerlach
10 de maio de 2017 às 14:46Existem vários fatores que condicionam a mudança da paisagem, tanto físicos como também humanos, e a Geografia da Religião vem nos mostrar o quanto o Homem com sua cultura influência nessas mudanças. Ótima sua visão, parabéns...
jose gustavo
10 de maio de 2017 às 14:29Entender os processo de formação da geografia sem suas relações com a religião é impossível, visto que vivemos em uma sociedade judaica/cristã, onde a igreja e diversas religiões influenciam na história e geografia mundial.
Professor Reyes
08 de maio de 2017 às 03:48Como é bom ver que tem pessoas discutindo geografia da religião no Brasil. Parabéns nobre acadêmico Luan por dar grande ênfase a geografia na parte religião que como vc mesmo coloca ajuda a compreender o homem no seu meio. Parabéns unesc
Carina Freitas
04 de maio de 2017 às 23:33Excelente texto e sabia reflexão!!! Aprendi muito sobre esse tema com você, parabéns!!
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