Projeto Rondon - Lição de vida e cidadania

As primeiras (e últimas) lágrimas

As primeiras (e últimas) lágrimas
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O clima de despedida já está presente em todos os rondonistas. O último dia de atividades com o público foi marcado por choros e despedidas. Ao acordar, como de costume, todos se reuniram para o café da manhã antes de partir para as atividades. No rosto de todos, está estampado o desânimo por saber da aproximação do dia de voltar para a casa – camuflando a aparência de cansaço depois de duas semanas de atividades extenuantes.

Pela manhã, as oficinas foram realizadas normalmente. À tarde, com as mulheres, com direito a massagens, sobrancelha, cabelo, maquiagem e correção de postura – oferecida pelas meninas da Unesc. Era dia de distribuir todos os materiais também. Chega de carregar peso.

Para as crianças também teve atividades: uma caminhada ecológica. Com quatro sacos de fibra, saímos para recolher os lixos dos arredores da escola. As pessoas dentro das casas ficavam espantadas. Outras crianças, mesmo que sem participar da atividade, ajudavam a recolher os lixos próximos às casas.

Todos de volta para um café. Saímos em grupos para a última caminhada ao por do sol. Um carro de som puxava o grupo que era encerrado por uma integrante carregando a bandeira da Unesc, montada num cavalo. O encerramento da caminhada à beira do Rio Tocantins foi a despedida de todos que estiveram conosco em todos os dias ao pôr do sol na cidade. Todos se abraçaram. Uma troca de suor. As mais sensíveis choraram.
De banho tomado depois da janta, era ora de se despedir do Rio Tocantins. Primeiramente só entre rondonistas. Depois com a companhia de jovens da comunidade. Com seu violão, um deles animou a turma com moda de viola e sertanejo. Foram cantadas também as musicas da região que marcaram nossa estadia em Itaguatins. Mas a despedida mesmo fica para amanhã. Vamos ver quem vai aguentar.

28 de janeiro de 2011 às 19:12
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A idade de dona Luiza e outros causos da quarta-feira

A idade de dona Luiza e outros causos da quarta-feira
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Na tarde desta quarta-feira, um grupo foi à comunidade de Cocal Grande, interior de Itaguatins – estrada em péssimas condições. Como havia chovido, o lodo a tornava ainda mais intransitável, a ponto de o motorista recomendar o retorno com medo de na volta a passagem estar proibida. Mas o grupo optou por prosseguir. O argumento que prevaleceu é que a distância era de 14 km e, na pior das hipóteses, voltaríamos a pé.

Quando o grupo chegou na escola municipal da comunidade, percebeu o grau de vulnerabilidade em todos os aspectos a que tal população está submetida. A grande maioria das casas é de pau a pique. Mobiliário em péssimas condições. Os dois meios de transporte que se manifestaram enquanto o grupo esteve lá foram um cavalo e uma bicicleta. Muitas crianças – meninos e meninas – só de shortinho. Um deles se chama Lucas, 3 anos. Estava sentado na área e a sua mãe cortava-lhe as unhas dos pés. O marido está em Palmas e o sonho da família é sair dali.

Três casas adiante de onde reside Lucas, mora Dona Luiza. Quando perguntada sobre sua idade, a resposta causou surpresa. Ela respondeu mais de oitenta e, na insistência para especificar a idade, respondeu de novo: “mais de oitenta”. Perguntamos a data de nascimento, ela respondeu “dezembro”. Insistindo para que ela fosse mais específica, continuou dizendo dezembro. A volta até Itaguatins foi tranquila.

Ainda no restante da tarde, visitamos a Dona Roseli, esposa do Antonio do Zezinho. Tem 60 anos, é casada pela segunda vez e apaixonada pelo primeiro marido. Teve 15 filhos. Hoje tem 6. É benzedeira, não sabe ler nem escrever, só sabe “dizer o pai nosso”. Sua especialidade é a cura de “arca caída”. Da sua residência, se tem uma visão fantástica de uma das partes mais belas do rio Tocantins. É onde tem a maior concentração de corredeiras. Um pouco mais ao horizonte passa a ferrovia norte-sul.

O dia em Itaguatins foi chuvoso, com chuva leve, o que facilitou, pois o clima fica mais agradável. A professora Rose está sofrendo pela picada do potó em dois locais da sua face. O professor Murialdo, querendo saber um pouco mais do comércio de imóveis da cidade, visitou o cartório de registro de imóveis e tabelionato. O loteamento com maior movimento no cartório tem cada fração de terra no valor de dois mil reais. O lote mais caro da cidade está estimado em trinta mil reais. São realizados de dois a seis registros por mês e estes são principalmente de fazendas e chácaras. O cartório é também um dos cinco pontos de fax da cidade. Para cada transmissão de fax, o cartório cobra três reais, que inclui a ligação para confirmar o recebimento.

27 de janeiro de 2011 às 18:13
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Pequenas histórias que rendem um filme!

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Arnaldo Viana dos Santos - Conselheiro
Tem 42 anos. Faz parte do Conselho Tutelar da Criança e adolescente. Está no seu primeiro mandato, mas não disputará a reeleição no pleito que acontecerá no fim de janeiro. São cinco vagas. Estão inscritos onze candidatos. Diminuiu em relação à eleição passada, quando se inscreveram 32 candidatos. Arnaldo diz que ser conselheiro incomoda demais. Arruma inimigo numa cidade que é muito pequena. Acontecem de três a quatro casos por mês. O caso que mais chamou sua atenção foi o espancamento, pelo pai, de uma criança de quatro anos. Machucou muito. Ficaram na criança várias marcas de cipó. O pai foi preso. Depois de solto, se mudou para uma cidade do Maranhão levando o menino. Arnaldo avisou o Conselho da nova cidade sobre o ocorrido.

Raimundo e José – Dois irmãos
Jovens, foram enterrados vivos. É a história mais triste de Itaguatins. Aconteceu nos anos 1960. Era dia de festa. Os irmãos estavam na missa. Um policial muito agressivo adentrou à igreja e, apesar de haver outros bancos vagos, quis ocupar o lugar onde estava um dos jovens. A briga começou ali mesmo. Terminou na rua, quando um dos jovens, com uma faca, matou o policial. Os dois foram presos no ato. Um em cada cela. Em seguida, ambos foram baleados na boca, mas não morreram. O pai e outro irmão, sob a mira e a coação de um forte aparato, foram obrigados a carregar nas costas os irmãos baleados até o cemitério. Cavaram uma única cova com tamanho para um só corpo. O resto não precisa dizer. O pai e o outro irmão somente foram poupados, porque o padre falou alto e conseguiu impedir o massacre. Hoje tem uma capela no local. Nela o povo reza e faz seus pedidos. Nos finados é o túmulo mais visitado e iluminado por velas.

Miguel da Caçamba – 35 filhos
O povo tinha muito medo de sair de casa nas noites de quarta-feira. Sempre aparecia um bicho, que vagava pelas ruas fazendo muito barulho. Depois, desaparecia dentro do cemitério. O povo foi se incomodando com a situação, principalmente os mais jovens. É que quarta-feira é dia de namorar e ninguém conseguia mais se encontrar. Aí preparam uma emboscada para pegar o bicho. Conseguiram. Era um homem. Era o seu Miguel da Caçamba, que se vestia de bicho e amarava umas latas velhas nas pernas. Tudo, para não ver seus encontros amorosos descobertos pela esposa. Alguns moradores dizem que ele é pai de 26 filhos. Outros afirmam que são 31. A maioria alega que já são 35 crianças que tem sua paternidade. O que todos concordam, porém, é que a contagem não terminou.

Ostérnio – Seresteiro
É o mais famoso de Imperatriz do Maranhão, cidade importante que fica a 35 km de Itaguatins. Tem o rosto do Milton Nascimento e o corpo do Tim Maia. Cantou numa seresta beneficente, que aconteceu no sábado passado por conta de um jovem bem quisto de Itaguatins que precisa fazer uma cirurgia. Fomos à seresta todos os rondonistas. Como uma boa seresta das antigas deu de tudo. Ou melhor, quase tudo. Marido que foi buscar a mulher, que estava lá dançando sem sua autorização. Membros do Conselheiro Tutelar a postos, observavam as crianças presentes e as impediam de ficar longe dos pais. Teve até o Luiz Pisquila que, ao microfone instalado no palco, pediu para que os membros da família Malaquias parassem de bagunçar e brincassem “de boa”. Quem disse que o Pisquila desceu do palco? Mas isso já é outra história.

27 de janeiro de 2011 às 14:03
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Uma visita cor de telha

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Iniciamos nossa segunda semana em Itaguatins com pique total. Mesmo assim, alguns sinais de cansaço já se manifestam no grupo. Fomos alimentados por um final de semana repleto de atividades, que nos motivaram a integrarmo-nos de forma mais intensa com a comunidade local.

Quando chegamos para nossas atividades na Escola Santo Antônio da Cachoeira, as pessoas já nos aguardavam. Aconteceram várias oficinas durante todo o dia, relacionadas ao direto e à saúde. Foi mais uma manhã bastante agradável e repleta de aprendizados.

À tarde fomos surpreendidos pela visita de um camaleão. Um bicho mesmo. Foi encontrado sobre o telhado de nossa casa. Pelo barulho o professor Murialdo percebeu que havia algo no telhado. Ao olhar de um ponto melhor, localizou o animal. Alguns moradores de Itaguatins, que passavam na rua naquele momento, informaram que era um cameleão.

No final da tarde fomos pegos de surpresa. Uma chuva maravilhosa nos presenteou com seu frescor. Desfilamos pela segunda vez com nossas capas de chuva.

À noite continuamos nossas atividades. Dessa vez com a apresentação do filme “Meu nome é rádio”, que faz parte do projeto Cine Rondon. Foi assistido por 19 pessoas. Haveria muito mais, se não fosse a chuva que continuava caindo. Durante a apresentação, foram servidos refrigerantes e pipocas. Quando encerrou, o relógio marcava 23h30. Foi assim que nosso oitavo dia terminou.

26 de janeiro de 2011 às 16:38
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A faxina, o tecnobrega e uma pausa pra oração

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Hoje amanheceu com tempo chuvoso (que vontade de dormir até tarde!). Mas na rotina de um rondonista não está inclusa esta e outras mordomias. A parte da manhã foi destinada àquela faxina no quarto. Colocamos todas as malas e colchões para fora e ‘dale’ varrer tudo o que podia ser varrido. Depois de tudo limpinho, retomando as malas aos seus lugares, e a sensação indescritível de limpeza. Ô coisa boa!

Pela tarde, todos concentrados na construção dos relatórios e dando os últimos ajustes para as atividades da próxima semana.

À noite, na atividade de integração, fomos recebidos pelo prefeito em sua casa! Comemos um dos pratos típicos da cidade: peixes tambaqui e piranha. Também aproveitamos para treinar um pouquinho mais o ritmo musical regional, o tecnobrega. Apanhamos um pouco, mas foi muito divertido!

O domingo foi destinado a um ‘reconhecimento’ da região. Saímos às 9h e seguimos até a cidade Imperatriz no Maranhão. Lá fizemos um passeio e voltamos à casa do prefeito (mais uma vez). Almoçamos, aproveitamos a paisagem para tirar muitas fotos, e ‘dale’ tecnobrega! Já é perceptível uma melhora. Sairemos daqui profissionais!

Voltamos para casa no fim da tarde. Após, fomos à missa agradecer a Deus pelas conquistas e pedir proteção nesta última semana.

Ao final da missa, quando já estávamos em casa, recebemos uma visita inesperada, porém, muito boa – o grupo de jovens da paróquia Santo Antônio nos presenteou com uma corrente de orações e algumas canções. Foi um momento de muita emoção! Mais um dia se encerrou, com a sensação de missão cumprida.

26 de janeiro de 2011 às 16:24
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