A mulher que pegava sucuri à unha, ou quase...
A maioria dos homens ri com desdém do pavor que a quase totalidade das mulheres tem de ratos, baratas e pererecas...
Sei lá se precisa tanto... Em Cacalândia não foram poucas as vezes em que corríamos pela gritaria e era apenas uma ou duas garotas saindo esbaforidas do banho, interrompido pelo réles pulo de um carrasco ou perereca, ou ainda a gritaria coletiva e um "porta afora" do quarto por uma nojenta mas inofensiva barata... alojamento tem disso...
Mas a história de dona Dina Rodrigues é de envergonhar nossas moçoilas urbanas.
Em uma de minhas palestras com a comunidade local, usei a expressão "a vida de cada um de nós, dá um livro, somos os heróis de nossa própria história..." e dona Dina (é melhor chamar de dona essa simpática, jovem e forte senhora) saiu rápido, entre séria e zombeteira: "a minha dá mesmo. Perdi a conta de quantas sucuris já matei." Essa dá um livro de aventura no estilo Indiana Joana, pensei.
Mais tarde, conversando de perto ela confirmou. Vivendo na Amazônia há 22 anos, esta matogrossense do sul, natural de Rondonópolis, morou sete anos em Apuí. "Hoje é uma cidade mais desenvolvida, de garimpo", diz ela. Mas em 89 era um pequeno povoado no meio da imensa floresta. Seu marido era caçador. E quando ela ia limpar e lavar as caças no rio vinham as "anacondas". 'Nunca vi lugar com tanta cobra. Matei tantas que perdi a conta. Elas vinham e comiam as vísceras das caças que eu jogava no rio. Matava a facão. Só uma matei com a espingarda. Normalmente elas não atacavam, acho porque tinha muita comida, muita caça. Mas um dia uma me encarou e armou o enorme bote. Saí de mansinho, fui em casa e peguei a espingarda, voltei lá e taquei-lhe um tiro e nem esperei para ver. Quando meu marido chegou contei a ele. Ele foi, procurou e achou a bruta embaixo de uma rocha com a cabeça esfacelada pelo chumbo. Era das grande. Outra vez tava dando banho na minha menina e veio uma na correnteza, só levantei a menina e a cobra se enroscou e escorregou pelas minhas pernas. Meu marido secava os couros das cobras, uma vez veio um enorme urubu e levou um dos couros..."
Pena que o espaço seja pouco para tanta história.
Realmente: brava gente brasileira...
Dona Dina que o diga.
03 de agosto de 2010 às 11:21
1 comentário
Jaciele Neves
06 de agosto de 2010 às 12:48Ah, essas pererecas e baratas no alojamento rederam bons gritos e, principalmente, boas risadas. Agora precisamos pegar umas aulinhas com dona Dina. Que mulher, hein!
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