Setor de Apoio à Captação de Recursos

Novos projetos valorizam os padrões de sustentabilidade

Investir em inovação e sustentabilidade já é quase uma obsessão para algumas empresas. Não há medida para os gastos realizados na adoção de práticas sustentáveis diferenciadas. A Braskem, por exemplo, aplicou R$ 200 milhões na construção de uma unidade de eteno verde, produto fabricado a partir do etanol da cana-de-açúcar, em Triunfo (RS), que entra em produção industrial em meados deste ano. E avalia a possibilidade de desembolsar uma quantidade maior de recursos para também produzir polipropileno verde no polo petroquímico gaúcho.

 

Já a Dedini Indústrias de Base, principal fornecedora de equipamentos para usinas sucroalcooleiras, de Piracicaba (SP), estima em 2% do total de seu faturamento (cerca de R$ 1,5 bilhão em 2009) o valor do dispêndio que fará este ano no desenvolvimento de engenharias para geração de ideias inovadoras e processos sustentáveis. O objetivo é desenhar novos projetos comerciais a partir do modelo da Usina Sustentável Dedini, que prioriza o menor gasto energético e o menor impacto ambiental em sua produção.

 

O esforço, que vem se tornando uma prática comum de corporações de diferentes segmentos de negócios, delineia um novo cenário, com impactos significativos na concorrência entre as empresas. "A maioria das empresas aproveita o atual momento econômico para manter, ou mesmo aumentar suas ações em sustentabilidade e, consequentemente, em inovação, porque percebem agregação de valor nessa atividade", diz Carlos Calmanovici, engenheiro Ph.D da área de TI da Braskem e vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).

 

Segundo ele, um levantamento recente realizado entre as 160 empresas associadas à Anpei mostra que mais de 80% delas mantiveram ou aumentaram seus investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação em 2009. "A busca pela competitividade obriga as empresas a investir em inovação e sustentabilidade", atesta Calmanovici.

 

Não é só por uma questão de conscientização dos impactos da atividade econômica no ambiente ou por pressões da sociedade, cada vez mais esclarecida sobre a dimensão dos problemas ambientais. "A inovação, tanto quanto a preocupação com a sustentabilidade, permite desenvolver produtos diferenciados para o atendimento das necessidades do mercado e de aplicações pioneiras", explica o dirigente da Anpei.

 

Com um ambiente mais favorável no País para o uso de matérias-primas de fonte renovável, a Braskem aposta na produção de eteno a partir de etanol, com objetivo de fabricar polietileno 100% verde, uma resina utilizada para fazer sacolas para supermercados, embalagens, entre outros artigos. A nova unidade de Triunfo terá capacidade para produzir 200 mil toneladas de eteno verde ao ano, que serão consumidas pela própria Braskem para fabricar o polietileno verde.

 

Na Dedini, a motivação não é apenas a de ter imagem de uma empresa sustentável, avalia José Luiz Olivério, vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da empresa. "Nossa estratégia é oferecer sempre soluções, produtos e serviços que agreguem valor para o cliente", destaca.

 

A Dedini tem várias linhas de produtos que contribuem para a sustentabilidade. Além do etanol, que substitui a gasolina e tem um efeito ambiental de redução de gases de efeito-estufa, a empresa desenvolveu soluções e tecnologias para o fornecimento de bioeletricidade, produzida a partir do bagaço de cana, estações de tratamento de efluentes, e biodiesel.

 

O grande trunfo comercial da companhia, dentro de sua estratégia de inovações sustentáveis, é a Usina Sustentável Dedini (USD), implantada pioneiramente na indústria Barrálcool, em Barra do Bugre (MT). É uma planta construída no conceito de quatro bios (bioaçúcar, bioetanol, bioeletricidade e biodiesel). O investimento foi da ordem de R$ 25 milhões, e a solução possibilita reduzir as despesas em 15% quando comparadas à planta de biodiesel não integrada, informa Olivério.

 

"A Dedini inovou ao integrar uma planta de biodiesel na usina, de forma a usar energia do bagaço, ao invés de energia fóssil; o etanol ao invés do metanol; o óleo que produz a partir do grão plantado na mesma lavoura de cana (mamona, por exemplo), e produz um biodiesel com menor investimento, menor uso de energia renovável e, ao mesmo tempo, substitui o biodiesel usado na frota canavieira, reduzindo também as emissões de gás carbono".

 

Não é puro marketing conceitual, assegura Olivério. A Usina Barrálcool tem capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas de cana por safra e 50 mil toneladas por ano de biodiesel. Segundo ele, as encomendas suspensas de novas usinas de açúcar e álcool, por causa da crise econômica global, em 2008 e 2009, recomeçam a ser negociadas com o setor. Novos projetos estão previstos para ser iniciados em 2010.

 

"Desenvolvemos uma tecnologia mais eficiente em termos de recuperação de água, usando processos secos, de tal forma que temos uma usina autossuficiente em água".

 

Maior fabricante mundial de eletrodomésticos, Whirlpool Corporation considera a sustentabilidade um dos seus pilares estratégicos fundamentais. O olhar da empresa para essa questão vai além da sustentabilidade orientada a iniciativas verdes, comenta Nancy A. Tennant, VP de inovação da Whirlpool Universidade. "Para nós, a sustentabilidade é a criação de valor e vantagens competitivas de longo prazo. O objetivo é conduzir a sustentabilidade e as inovações necessárias para que isso aconteça", diz.

 

Na prática, isso significa desenvolver produtos inovadores e sustentáveis que resolvam os desafios enfrentados pelos consumidores. Na América Latina, a companhia contabiliza grandes experiências nesse campo, informa Mário Fioretti, gerente geral de design e inovação da Whirlpool. "Um exemplo é o Consul Facilite, o primeiro refrigerador Frost Free de uma porta do mundo, que rompeu a barreira de que só pessoas de alto poder aquisitivo podem usufruir dessa tecnologia. A vantagem desse refrigerador é que ele não precisa ser descongelado nunca, enquanto os modelos atuais precisam ser descongelados, em média, de 15 em 15 dias", afirma.

 

A empresa investe pesado na área de inovação, segundo o executivo. A previsão de investimentos da Whirlpool Latin America para este ano em tecnologias, pesquisas, marcas, marketing e comunicação é de R$ 250 milhões, incluindo-se aí os projetos inovadores.

 

Segundo Fioretti, o processo de inovação na Whirlpool surgiu formalmente em 2000 e tinha o objetivo de mudar o "mar de branco" gerado pela comoditização dos produtos de linha branca. A inovação é implantada de forma estruturada. Há uma área, com orçamento próprio, responsável por processos de gestão, planejamento estratégico e, também, pelas métricas e metas a serem cumpridas por toda a organização. São mais de 600 profissionais dedicados ao desenvolvimento de soluções inovadoras para o mercado brasileiro e mundial de linha branca.

 

A companhia registrou 31 patentes em 2009, o que a torna a única empresa do Brasil entre as mil maiores instituições depositantes de patentes no mundo. Também no ano passado, a companhia lançou 160 novos produtos, muitos dos quais exportados para mais de 70 países. "A Whirlpool inova também em modelo de negócios. Um exemplo é o purificador de água Brastemp. Nesse caso, não estamos falando de um produto inovador, mas de um modelo de negócios pioneiro. Foi a primeira vez que um produto passou a ser alugado em vez de ser vendido", conta Fioretti.

 

Ou seja, a inovação é hoje uma ferramenta de competição. "Trata-se de uma necessidade para uma companhia que quer se manter líder de mercado e, principalmente, quer atender as exigências dos consumidores", afirma.

 

Os resultados mostram o acerto do foco na inovação e na sustentabilidade, diz Fioretti. Em três anos, a companhia multiplicou por oito sua receita com produtos classificados como inovadores. Para 2010, a meta da Whirlpool é ter 25% da receita gerados com a venda de produtos classificados como inovadores. A empresa não divulga os valores da receita da Whirlpool Latin America, mas indica que encerrou o ano de 2009 com resultados recordes e um crescimento (em número de unidades vendidas) de 24% sobre o registrado em 2008. "Boa parte desse resultado se dá por conta da inovação e do lançamento de produtos cada vez melhores", diz Fioretti.

 

Fonte: Valor Econômico

http://www.protec.org.br/noticias.asp?cod=5444

11 de março de 2010 às 08:49
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