Laboratório de Materiais Antimicrobianos

Unesc participa de projeto inédito no Brasil para recuperação de áreas degradadas pela mineração

Unesc participa de projeto inédito no Brasil para recuperação de áreas degradadas pela mineração
Trabalho é realizado em minas de urânio e de carvão (Fotos: Milena Nandi) Mais imagens

A Unesc faz parte de uma iniciativa inédita no Brasil para a recuperação de solos e recursos hídricos contaminados pela mineração de urânio e carvão, com o uso do ozônio. O projeto “Processo de geração e transferência de ozônio na recuperação de solos e recursos hídricos contaminados por metais pesados em mina de urânio”, que iniciou em 2013, está em sua reta final – o prazo de conclusão é em dezembro de 2015 – e já obteve resultados positivos em Caldas, Minas Gerais, onde foi comprovada a possibilidade de recuperar a drenagem ácida gerada em área de mineração de urânio. Já os estudos da recuperação e tratamento de drenagem ácida da mina São Geraldo, pertencente à Carbonífera Rio Deserto, em Criciúma, com o uso de ozônio, começaram no fim de maio de 2015, quando a planta para o tratamento das águas que saem da mina desativada foi instalada.

Em Caldas, o passivo ambiental na área de estudo é de 45 milhões de metros cúbicos de bota-fora concentrado em aproximadamente 130 hectares. Na região carbonífera são 6 mil hectares de passivo em processo de recuperação, com geração de drenagem ácida suficiente para contaminar as bacias hidrográficas do rio Araranguá, do Rio Urussanga e do Rio Tubarão.

A Universidade faz parte de um grupo formado pela Fundação Patria (Fundação Parque de Alta Tecnologia da Região de Iperó e Adjacências), pela empresa Brasil Ozônio, de São Paulo e pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil), com sede em Caldas, Minas Gerais, que aprovou junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) uma concessão de apoio não reembolsável de R$ 9,6 milhões. O projeto está orçado em R$ 10,8 milhões e a Brasil Ozônio, fornecedora dos geradores de ozônio, é responsável por uma contrapartida de R$ 1,2 milhão.

O projeto conta também com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e da Comissão de Energia Nuclear (CNEN). A Unesc entrou no projeto como Instituição Tecnológica e responsável técnica por aplicar, avaliar e construir indicadores de eficácia da aplicação de ozônio nos solos e nas águas.

O professor doutor da Unesc, Elídio Angioletto, é quem coordena os trabalhos de pesquisa do projeto, e conta que os primeiros experimentos com ozônio para o tratamento de drenagem ácida de mina ocorreram na década de 60 nos Estados Unidos e que no Brasil, ainda são recentes. “Vivemos um período com recursos hídricos mais escassos. Poder tratar a água contaminada e tornar ela utilizável é um avanço necessário”, comenta.

Projeto possibilita aprendizado para acadêmicos da Unesc, UFSC e USP


O projeto também é um campo de estágio para futuros profissionais. Além de Angioletto, o grupo de trabalho da Unesc conta com o engenheiro químico formado na Unesc, e mestrando em Engenharia Química na UFSC, Thauan Gomes, e os estudantes bolsistas da sétima fase do curso de Engenharia Química da Unesc, Ana Carolina Feltrin e Willian Acordi Cardoso. Também estão inseridos nas atividades dois mestrandos e dois alunos de iniciação científica da USP.

Ana Carolina está há quase um ano no projeto, e realiza as análises de microrganismos presentes no solo e nas águas, no Laboratório de Desenvolvimento e Caracterização de Materiais Antimicrobianos, localizado no Iparque (Parque Científico e Tecnológico da Unesc). Segundo ela, o estágio permite o contato com novas áreas e colocar em prática conteúdos aprendidos em sala de aula.

Já Cardoso, que está o mesmo período de tempo que Ana Carolina no projeto, faz análises químicas da recuperação dos efluentes, montagem de equipamentos e estudos sobre a viabilidade do projeto.

“Estou tendo contato com algo diferente e a possibilidade de aprender, em um menor espaço de tempo, uma série de questões que envolvem um projeto, desde a montagem de máquinas e aspectos econômicos até o funcionamento de empresas da área, sem contar a parte química e o contato com instituições de vários lugares do Brasil. Isso será um diferencial para mim”, conta o estudante.

Entenda o processo

O ozônio é um gás (que tem o ar como matéria prima) e nos estudos realizados, passa por um separador e secador de oxigênio e então pelo gerador de ozônio. Após a reação, esse gás, em tempo médio de sete minutos, volta a ser oxigênio. “O estudo feito em Minas Gerais, mostrou que o ozônio é efetivo na recuperação da DAM (Drenagem Ácida de Mineração), onde oxida todos os metais presentes. Com a adição de um pouco de cal hidratada para corrigir a acidez, essa água pode ser utilizada para diversos fins, como irrigar lavouras, para a criação de peixes, para esportes aquáticos e para animais beberem”, explica.

Angioletto comenta que pelas características da drenagem ácida das minas de carvão, haverá mais dificuldade no tratamento em Criciúma do que a encontrada em Caldas. “A intenção é conseguirmos tratar e recuperar o passivo com ozônio a um custo competitivo em relação às demais tecnologias já existentes no mercado”, afirma.

O outro estudo realizado no projeto possui o objetivo de evitar a formação da drenagem ácida de mineração. Neste caso, o ozônio é aplicado diretamente nas pilhas de rejeitos e estéreis de mineração e como ele é um forte oxidante, elimina os microrganismos ferro-oxidantes que atuam na formação da drenagem ácida de mineração.

Na planta piloto, a água contaminada recebe uma injeção de ozônio para oxidação dos metais pesados, que serão separados por meio de processo como filtração ou centrifugação e poderão ser aproveitados para ajudar a suprir a demanda do mercado por esses óxidos. O manganês que está sendo recuperado em Caldas é um bom exemplo desse potencial. Posteriormente a água segue para um tanque, onde é adicionado cal para ajuste do pH (Pontencial  Hidrogeniônico) e decantação de metais remanescentes e segue seu curso para o ambiente.

Já no caso dos depósitos de rejeitos e estéreis de mineração, o gás ozônio é injetado diretamente nas montanhas de resíduos utilizando para isso um conjunto de sondas e ar comprimido. A ideia é eliminar o microrganismo Thiobacillus ferrooxidans, que é catalisador de reações que produzem ácido sulfúrico.

Fonte: Setor de Comunicação Integrada

16 de junho de 2015 às 17:05
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3 comentários

Daniel Bossi

26 de agosto de 2017 às 09:23

Urgente ser adotado como projeto nacional.

José Dagostim

17 de junho de 2015 às 14:42

Quem polui recupera! Melhor, não deve poluir. Usar dinheiro público para recuperar degradação ambiental produzida pelas mineradoras privadas é um absurdo. Usar da ciência para justificar mais poluição é um "pecado", pra não dizer ignorância.

Natália

17 de junho de 2015 às 11:10

Um grande projeto! De grande alcance social e a natureza agradece...

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